5 de maio de 2012

"o hiperrealismo das mudanças climáticas e as várias faces do negacionismo".

por déborah danowski
publicado na sopro 70, abril 2012

trechos:

"As mudanças climáticas se incluem na classe desses objetos especiais que Timothy Morton chamou recentemente de “hiperobjetos” (em The Ecological Thought. Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press, 2010). Hiperobjetos são um tipo relativamente novo de objetos que, segundo Morton, desafiam a percepção que temos (ou que o senso comum tem) do tempo e do espaço, porque estão distribuídos de tal maneira pelo globo terrestre que não podem ser apreendidos diretamente por nós, ou então que duram ou produzem efeitos cuja duração extravasa enormemente a escala da vida humana conhecida.
Um exemplo de hiperobjetos são os materiais radioativos. O plutônio 239, por exemplo, tem uma meia-vida de 24.100 anos, de modo que sua utilização no presente pode ter efeitos que duram mais do que já durou qualquer evento de que tenhamos notícia na história humana escrita. Um segundo exemplo é o aquecimento global e as mudanças climáticas que dele se seguirão em maior ou menor grau, podendo durar milênios até que sejam restabelecidas as condições climáticas que hoje conhecemos – só que então talvez não estejamos mais aqui para testemunhar esse restabelecimento (...)."

"Há dois pontos importantes nessa discussão, que, para terminar, gostaria de elaborar um pouco mais.
O primeiro é a questão, já há pouco mencionada, de saber se nossa única saída é aperfeiçoar o que temos, ou, ao contrário, se é possível – isto é, se não seria “o fim do mundo”, no sentido coloquial da expressão – pensar uma outra forma de viver, fora desse modelo (para simplificar) patriarcal, produtivista, neoliberal e corporativo de sociedade que é a nossa. A rigor, não é de possibilidades ou escolhas que fala Kingsnorth; ele diz que,queiramos ou não, esse modelo está ruindo a olhos vistos, que não há como impedir isso, mas que seu fim não é o fim de tudo, nem leva necessariamente ao caos.[7] Kingsnorth pretende se opor assim ao que chama de visão bipolar do mundo, implícita ou explicitamente assumida por pessoas como Monbiot: ou tornamos nossa civilização “sustentável”, ou teremos uma catástrofe de proporções bíblicas; ou optamos, como modelo de futuro, pela “democracia capitalista liberal 2.0” (i.e. o mundo em que vivemos hoje, só que com os combustíveis fósseis substituídos por placas solares, turbinas eólicas etc, “governos e corporações controlados por cidadãos ativos e o crescimento dando lugar a uma economia sustentável”), ou nosso futuro será como o mundo retratado por Cormac McCarthy no livro The Road, “o mundo macabro do pós-apocalipse, em que tudo está morto exceto os humanos”, reduzidos em boa parte ao canibalismo. (...)"

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