7 de maio de 2012

"não me chame de ambientalista".

"não sou ambientalista", disse um economista famoso em um debate na TV sobre o código florestal. outro dia, minha mãe me perguntou: - filha, tu virou ambientalista? fiquei incomodada com aquela ênfase do economista, mas ainda não soube responder nem sim, nem não para a pergunta da minha mãe. é tanto   i s t a ...  quem dá conta? eu certamente não, pois nunca lidei bem nem com os rótulos que pretendi me auto-atribuir... o que dizer daqueles que não escolhi e grudaram em mim. hoje topei com um texto que tem tudo a ver com essa questão: 
"don’t call me an environmentalist", "não me chame de ambientalista". 
assinaria embaixo de muitas idéias desse texto, escrito por lisa curtismas não de todas elas (a autora fala de definições estáveis que só existem, e olha lá, no dicionário; da história como linear; e é muito otimista em relação às "soluções de mercado"), mas a provocação que faz é super bem vinda. achei que valia a pena traduzir para o português, para ampliar o acesso ao texto, mas não me chame de tradutora: o artigo original em inglês está aqui  e qualquer sugestão/ correção por favor, manda aí que edito sem problemas.


"Não me chame de ambientalista"


Lisa Curtis 


[saiu no Grist, originalmente publicado no HuffPo]
07/ 05/ 2012


"Eu acredito em mudança climática. Eu ando com a minha bicicleta em todo lugar, eu trabalho numa companhia de energia solar, eu compro orgânico e local quando eu posso. Eu sou jovem, progressista* e idealista. Mas eu não sou uma ambientalista e eu não estou sozinha. 

Ao longo da última década, o número de norte-americanos que apoiavam o movimento ambientalista declinou, com as adesões se dividindo cada vez mais em linhas partidárias. Por outro lado, a maior parte dos norte-americanos apóia fortemente o desenvolvimento de energia limpa, acredita na mudança climática como uma questão importante e se engaja regularmente em condutas que são boas para o meio ambiente. Ao menos foi isso o que dissemos aos pesquisadores.

O Gallup concluiu recentemente que 83% dos norte-americanos querem mais apoio do governo para a energia limpa. Pesquisadores das universidades de Yale e George Mason concluiram [PDF] que 72% dos norte-americanos crêem que o aquecimento global deve ser uma prioridade de governo. Outro poll do Gallup concluiu que 3 em cada 4 norte-americanos se engaja com freqüência em comportamentos amigos do meio ambiente.

Aparentemente, muitos norte-americanos estão alinhados com os objetivos do movimento ambientalista. Nós apenas não nos alinhamos com o próprio movimento.

O que há de errado com o movimento ambientalista? De acordo com os críticos mais rabugentos (entre eles, alguns dos seus primeiros líderes) está morto. Na minha visão, não se adequou aos tempos.

Eu sou uma cria do movimento ambientalista, neta de andarilhos entusiasmados que ajudaram a proteger espaços selvagens e filha de pais ecologicamente preocupados que me ensinaram the Clean Air Act  [lei pela preservação da qualidade do ar] junto com o meu ABC. Então é com todo o respeito que eu gostaria de informar aos meus antepassados que o ambientalismo deles não está funcionando mais.   

O ambientalismo da geração dos meus avós estava focado em preservar a vida selvagem intocada, livre da interferência humana. Para os meus pais, ambientalismo tinha a ver com vitórias legislativas.

No século 21, com 7 bilhões de pessoas para vestir, alimentar e abrigar há muito pouco do meio ambiente que não tenha sido alterado. Nós estamos mudando o mundo natural e continuaremos a fazê-lo. Quando o trade-off é entre ou sobreviver ou preservar o intocado, a sobrevivência sempre irá prevalecer.

Claro, se nós continuarmos a degradar o habitat natural nas proporções atuais, nós extinguiremos pela metade as espécies de plantas e animais que nos acostumamos a ter e o mundo será um lugar difícil para sobreviver. Proteger a vida selvagem é algo difícil de argumentar em muitas das partes não desenvolvidas do mundo, intocadas, onde os moradores vivem na pobreza e dependem dos recursos naturais para sobreviver.

Ao mesmo tempo, há inúmeras maneiras de sobreviver de um modo ecologicamente correto. Como eu aprendi no período em que eu morei na Nigéria, um dos países mais pobres do mundo, soluções ecológicas podem ser encontradas rapidamente quando elas atendem as necessidades da população local. As mulheres na minha comunidade adoravam os fogões a lenha mais eficientes, não por que elas salvavam árvores, mas por que elas não perdiam tempo catando gravetos.

Isso não quer dizer que nós não podemos e não devemos cuidar de criaturas e espaços selvagens. Mas nós precisamos reconhecer que, com frequência, a melhor maneira de proteger espaços selvagens é cuidar das pessoas de um modo que deixe espaço para o selvagem também. Por essa razão muitos grupos ambientalistas descobriram que a melhor maneira de impedir a caça é empregar os caçadores como guias de eco-turismo. Quando nós ajustamos o econômico para que a sobrevivência se equivalha à proteção ambiental, coisas boas acontecem para as pessoas e para o planeta.

O que dizer do foco legislativo-ambientalista? Bom, a polititica ridícula de Washington transformou até a mais mundana das questões (controle de natalidade?) em querela partidária. Isso resultou em apenas uma vitória útil entre as vitórias ambientalistas significativas no meu tempo de vida, e tudo indica que poucas virão.

Em nível internacional, eu devo admitir que também fui iludida pela promessa de soluções de regulação. Eu pensei que o Presidente Obama brigaria na Conferência das Nações Unidas de Copenhague, em 2009, com uma caneta mágica que mandaria para longe as emissões de carbono - um gesto que o mundo inteiro seguiria. Isso não aconteceu.         

Com tudo isso, como fica o movimento ambientalista?

A melhor maneira para fazer crescer um movimento é sempre buscar a inclusão e ser conduzido pela inspiração.  Na minha geração, muitos acharam soluções centradas nas pessoas para os problemas ambientais, o que ganhou força nos Estados Unidos sob a atrativa descrição de "empregos verdes". Líderes desse movimento incluem Van Jones, Majora Carter, Billy Parish, e muitos outros que tem defendido que "ser verde" não é apenas proteger o meio ambiente, mas revitalizar nossa economia, nossas culturas e comunidades.

Ambientalistas: essa idéia é razoável. É razoável pela mesma razão que tantos "ambientalistas" abandonaram o navio com a recessão. Quando nós estamos na condição de sobrevivência, como tantos norte-americanos estão agora, a última coisa que nós queremos é alguma coisa que impeça nosso frágil crescimento econômico. Nos inspirem com a idéia de que as soluções ambientais criarão empregos, nos dêem razões válidas para acreditar que é verdade, e nós pularemos para dentro do barco. Deverá ser um barco diferente, mas o destino será o mesmo.   

Então não, eu não sou uma ambientalista. Eu sou uma criatura humana racional, tanto quanto os norte-americanos que vivem vidas verdes (environmental lives).  Se nós estamos realmente criando um sistema econômico mais sustentável e equitativo, nós precisamos superar as divisões e entender que a maioria de nós está do mesmo lado, não obstante os rótulos que colocamos em nós mesmos, ou aqueles que escolhemos não colocar."   

sugestões de tradução
* @abranches -> sugeriu trocar "liberal" por "progressista (13/05/2012)


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