26 de maio de 2012

pnuma. meio ambiente para o desenvolvimento.



O PNUMA, principal autoridade global em meio ambiente, é a agência do Sistema das Nações Unidas (ONU) responsável por promover a conservação do meio ambiente e o uso eficiente de recursos no contexto do desenvolvimento sustentável.


do PNUMA Brasil

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23 de maio de 2012

henri acselrad. que desenvolvimento queremos?



henri acselrad. que desenvolvimento queremos?


Entrevista concedida durante o Seminário sobre a Rio +20: 
Que desenvolvimento queremos?
Porto Alegre, 24 de maio de 2012

Entrevista: André Guerra - Núcleo Amigos da Terra
Câmera: Julia Aguiar - Coletivo Catarse


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rio+20 e o avanço do capitalismo. larissa packer.



dica da @malupr


Larissa Packer da Terra de Direitos fala sobre o avanço do capitalismo verde.


Trecho abaixo do site Diário Liberdade - para ler na íntegra e link original aqui
(...) a advogada Larissa Packer, assessora jurídica da Terra de Direitos, uma organização de direitos humanos com sede em Curitiba (PR), fez a crítica mais contundente ao que denomina de "capitalismo verde". Segundo a advogada, a inserção dos serviços ambientais no mercado gera um mecanismo perverso, em que quanto maior a degradação, maior o valor dos serviços ambientais.
- Quanto mais emissões e quanto mais degradação do meio, mais pagamento por créditos de carbono e por serviços ambientais para autorizar o dano. O lucro de um é o lucro do outro. A fórmula é estritamente econômica e nada tem a ver com conservação e uso sustentável - afirmou Larissa Parker.
A advogada afirma que os critérios utilizados para a "precificação" dos recursos têm como fundamento os valores que se formam no mercado e não a sustentabilidade ambiental.
- A agenda da "economia verde" não prevê a modificação dos padrões de consumo e prevê estimular a mudança parcial dos padrões de produção unicamente por meio da atribuição de preço à biodiversidade e privatização dos bens comuns.
Larissa Packer disse que a sociedade não deixará seus modos destruidores, mas criará um novo mercado para regular essas atividades, gerando mais privatização dos valores sociais e ambientalmente gerados.
- Ao passo que, de um lado, gera-se a privatização e o comércio desses bens comuns, de outro se gera a autorização daquele que comprou crédito de compensação de carbono, ou que pagou pelos serviços ambientais de continuar emitindo GEE (gases efeito estufa) ou continuar poluindo rios e degradando o ambiente. A degradação, portanto, não diminui. Pelo contrário, a natureza se converte em produto do mercado, inclusive do mercado financeiro.
Veja os principais trechos da palestra de Larissa Packer:
PSA
O pagamento por serviços ambientais, conhecido como PSA, é um mecanismo criado para fomentar a criação de um novo mercado, que tem como mercadoria os processos e produtos fornecidos pela natureza, como a purificação da água e do ar, a geração de nutrientes do solo para a agricultura, a polinização, o fornecimento de insumos para a biotecnologia etc. O PSA é, portanto, um dos instrumentos elaborados para tentar solucionar os problemas ambientais dentro da lógica do mercado, sem questionar as estruturas do capitalismo.
Economia verde
Ainda que os mecanismos da economia verde possam gerar empreendimentos e tecnologias orientadas pelos princípios da sustentabilidade, é questionável, a tendência geral do sistema permanece a mesma: a necessidade de produção sempre crescente, a comercialização de um volume cada vez maior de mercadorias, levando ao consumo acelerado dos recursos naturais e de sua degradação, com a produção de resíduos e degradação.
Se a principal causa da degradação dos ecossistemas é a super-exploração dos recursos naturais pelo setor agrícola e industrial de larga escala, por que a medida do pagamento por serviços ambientais, inclusive para financiar os desmatadores, poderia resultar na conservação e uso sustentável?
E pior: a maioria dos PLs de pagamento por serviços ambientais anexados a este PL, não só beneficiam os grandes poluidores e desmatadores ao cobrir os custos das consequ?ências danosas de suas atividades, como colocam a culpa do mal uso dos recursos, nos pequenos agricultores e famílias pobres da zona rural, que por necessidade se utilizam de forma irracional dos recursos naturais.
Hoje existem mais 10 Projetos de Lei anexados ao PL 972/2007 e todos eles apresentam como justificativa: as mudanças climáticas, a escassez de recursos naturais e a necessidade de incentivar medidas de redução de emissões e de degradação ambiental; incentivo às família pobres da zona rural que se utilizam de forma não sustentável dos recursos; a falência do sistema de comando e controle, que impõem restrições legais ao uso das terras (como a função socioambiental); incentivar as boas práticas por meio de instrumentos econômicos.
Títulos verdes
O mercado de pagamentos por serviços ambientais foi pensado para se gerar dinheiro para custear o cumprimento dos tetos de emissão ou limites de conservação impostos por lei, financiando desmatadores, assim como para autorizar a continuidade das emissões e desmatamentos através do mercado das compensações. A compra de títulos "verdes", como a Cota de Reserva Ambiental, ou a compra de serviços ambientais autorizariam a continuidade e até o aumento das emissões e degradação das grandes corporações dos países desenvolvidos, transferindo a dívida ambiental e climática para os países e povos e comunidades do Sul. O dinheiro levantado no mercado financeiro "verde", não apenas paga a conta da indústria e do agronegócio como alavanca o sistema financeiro com um gigantesco mercado de produtos, tecnologias, serviços, assessorias e ativos sob o rótulo de verdes.
Embora possa significar um apoio aos agricultores familiares, povos indígenas e povos e comunidades tradicionais para continuar a manter suas práticas associados a conservação e uso sustentável dos recurso, o mercado de pagamento por serviços ambientais só sobrevive se ganhar escala para cobrir seus custos. Para isto é muito mais simples pagar grandes proprietários de terras para recompor suas APPs, RL e aumentar sua cobertura verde, do que buscar diversos agricultores espalhados em suas unidades produtivas, muitas vezes sem o título de propriedade, o que gera insegurança para o mercado e o pagador.
Deste modo, a avalanche de políticas e marcos legais para implementar este mercado de pagamentos por serviços ambientais pode representar sérios riscos para a proteção dos direitos dos agricultores, povos indígenas, povos e comunidades tradicionais.
Retrocesso
Existem diversas políticas destinadas a valorização das práticas e dos produtos da agricultura familiar, seja através da implementação de Sistemas Agroflorestais e projetos de manejo facilitados, compra de sementes e mudas crioulas e o bônus para alimentos saudáveis. Ao invés de se pagar para que comunidades se tornem prestadoras de serviços, por que o Estado não empodera estas políticas estruturantes, como, por exemplo, o aumento do bônus de 30% para 70 % para a agricultura orgânica e agroecológica?
Uma política de Pagamento por Serviços Ambientais voltada a todos indistintamente, além de beneficiar desmatadores, leva a política sócio-ambiental a tratar todas as classes de agricultores (pequenos, médios e grandes), assim como a pluralidade de povos e comunidades locais da mesma forma. O mote que orienta a reformulação da política pública (fiscal, agrícola, ambiental): "Todos juntos contra as catástrofes ambientais, as emissões e a degradação", pode significar retrocessos significativos nos marcos legais e na condução de políticas estruturantes da agricultura familiar camponesa e das comunidades locais.
É necessário separar o joio do trigo e apontar quem são os responsáveis pelas emissões e pelo desmatamento, assim como identificar quais são os sujeitos que vem realizando a conservação e uso sustentável, como também a produção de alimentos saudáveis para o povo.
Livre uso
O que de fato pode realizar a conservação e uso sustentável dos recursos naturais é a garantia do direito à terra e território, a reforma agrária e democratização do acesso e uso do solo rural e urbano e dos recursos naturais, a proteção dos conhecimentos comunitários pelo seu direito ao livre uso da biodiversidade e da agrobiodiversidade, respeitando as características dos bens comuns.
Na conjuntura atual, uma política de Pagamentos por Serviços Ambientais não está dissociado da criação de um mercado mundial de bens e serviços ambientais. Por isso a redução das práticas tracionais agroecológicas e dos modos de vida das populações a um "serviço" mensurável e vendável vai na contramão da afirmação dos direitos dos agricultores que precisam sim receber o preço justo e políticas estruturantes, mas estas não devem passar, sob nenhuma condição pelas vontades e especulação dos mercados. (...) 


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18 de maio de 2012

brasileiro, consumidor irresponsável?

Outras Palavras 17 maio
Daniela Frabasile
Surpresa: pesquisa internacional revela que, ao contrário do que se pensava, população está propensa a pesar origem dos produtos, nas decisões de compra



Marcante em muitos países da Europa, a noção de consumo responsável é vista às vezes como muito sofisticada para os brasileiros. O senso comum sugere que boa parte dos europeus estão dispostos a pagar mais por produtos que não agridem nem os direito sociais, nem a natureza – mas a lógica no chamado “terceiro mundo” é mais primária. Aqui, a maioria – que pode, pela primeira vez, consumir mais que o indispensável – não estaria preocupada com as consequências sócio-ambientais de suas compras.
Estas opiniões precisam, agora, ser melhor avaliadas. Acaba de ser lançado o relatório Biodiversity Barometer 2012. Produzindo pela União pelo Biocomércio Ético, uma entidade internacional, ele avalia periodicamente hábitos de consumo em países de diversos graus de desenvolvimento econômico. Neste ano, os consumidores da França, Alemanha, Suíça, Reino Unido, Estados Unidos foram comparados aos do Brasil, Índia e Peru. Os resultados são surpreendentes. Pela primeira vez essa pesquisa procurou os consumidores brasileiros.
Segundo a pesquisa, os consumidores dos oito países acreditam que preservar a biodiversidade e garantir uma economia sustentável é responsabilidade principalmente do governo, em segundo lugar das empresas, e depois dos próprios consumidores. Pelos dados, 75% dos entrevistados acreditam que o setor privado tem um papel importante no desenvolvimento de uma economia sustentável.
Além disso, a pesquisa também mostra as diferenças entre as populações de cada país. Ao serem indagados sobre se já ouviram falar de desenvolvimento sustentável, 95% dos consumidores brasileiros responderam que sim. Nesse quesito, o Brasil fica atrás apenas da França, com 96% de respostas afirmativas. Logo atrás do Brasil, aparece a Suíça (92% de respostas afirmativas). Alemanha e Reino Unido aparecem abaixo (com 81% e 77%, respectivamente). Nos Estados Unidos, 64% dos consumidores já ouviram falar em desenvolvimento sustentável, à frente apenas de Índia (com 52%) e Peru (49%).
Por outro lado, o barômetro também mostra que existe uma diferença entre estar familiarizado com o termo e entendê-lo realmente. Quando a pergunta é sobre biodiversidade, 97% dos brasileiros entrevistados já ouviram falar, porém apenas 48% definiram o termo corretamente, e 22% de forma parcialmente correta.
Nos Estados Unidos, apenas 53% dos entrevistados sabiam do que se trata o termo, sendo que 21% dos consumidores definiram o termo corretamente. Dentre os países onde a pesquisa foi feita, a Índia foi onde os consumidores menos sabiam sobre biodiversidade: apenas 19% já ouviram o termo, e 0,4% soube definir corretamente.
Sobre como as pessoas aprenderam a definição de biodiversidade, o meio mais importante foram programas de televisão e documentários. Depois desse meio, o aprendizado fica a cargo de artigos em jornais e revistas, e abaixo disso, escolas e universidades. No Brasil, as propagandas são a segunda principal fonte de informação sobre biodiversidade, sendo que somando todos os países, as propagandas aparecem em quinto lugar.
Na questão do consumo, os dados mostram que 94% dos consumidores brasileiros dizem procurar comprar cosméticos que usam ingredientes naturais, acima dos 85% que aparecem na soma de todos os países. 84% dos brasileiros afirmam que prestam atenção às certificações ambientais e éticas, quando o total dos países aparece com 74%; e 87% dos brasileiros dizem se importar com a procedência dos ingredientes em cosméticos, o total nos países é de 69%.
Outro dado importante que pode orientar as empresas é que 78% dos entrevistados afirmam que as empresas certificadas por organizações independentes têm maior credibilidade frente ao consumidor.
Os consumidores também alegam querer mais informações sobre a origem dos ingredientes naturais presentes nos produtos. Dos consumidores brasileiros, 94% mostram interesse em saber mais sobre os recursos e obtenção das matérias-primas.
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15 de maio de 2012

economia verde é novo discurso hegemônico, diz pesquisadora.

15/05/2012
Rodrigo Otávio, da Carta Maior
“Economia verde é o novo discurso hegemônico. E não agora para a Rio+20. Ela é o marco de aonde a gente vai organizar a nossa resistência, mas também onde nós estamos na história daqui para frente”, resume Camila Moreno, pesquisadora e coordenadora de sustentabilidade da ONG ecológica alemã Fundação Heinrich Böll, sobre um dos temas centrais que deverá ser discutido na Rio+20, conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável que será realizada entre 13 e 22 de junho no Rio de Janeiro.
O discurso oficial do governo brasileiro para a conferência e para o tema, via ministério das Relações Exteriores, é que a economia verde vai definir o debate sobre o desenvolvimento nos próximos 20 anos. Calcada em documentos da indústria do petróleo, a pesquisadora da ONG alemã é novamente mais direta, “a economia verde é intrinsicamente dependente da economia marrom, da economia petroleira”.
“Eles estão operando com um horizonte que vai daqui até 2020, quando vai se definir uma nova arquitetura institucional e financeira tanto na ONU quanto em termos de marcos legais nos países; quanto também um período um pouco mais longo, até 2050, quando se imagina que vai estar realmente dada a transição para uma economia pós-petroleira”, afirmou Camila Moreno durante o seminário Outra economia, outro desenvolvimento, outra cooperação: A sociedade civil rumo à Rio+20/Cúpula dos Povos, realizado pela Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong), quinta-feira (10), no Rio.
Para Moreno, o que está em jogo no horizonte é como o capitalismo vai viver para além dos combustíveis fósseis. Assim, a economia verde surgeria como alternativa para viabilizar não só a expansão da atual economia petroleira até seu limite, mas também o controle das novas fontes de energia pelas mesmíssimas empresas e grupos de poder que mandam no petróleo. “Economia verde é fundamentalmente como vai se extrair mais recursos naturais e quem vai controlar esses recursos”, simplifica a pesquisadora.
Histórico do termo
Camila volta a 2005 rememorando como o termo economia verde começou a “cair no colo” da população. “A economia verde nasce quando é lançado um relatório da ONU sobre o impacto econômico das mudanças climáticas. Então são feitos planos de transição para uma economia de baixo-carbono e a principal medida de curto prazo é a aposta nos agrocombustíveis”, diz ela, não esquecendo de ressaltar no contexto do “boom” dos agrocombustíveis a crise alimentar de 2008, anterior à crise financeira de 2009 e 2010. “Só que a ideia de ‘baixo’-carbono não colou depois de 2008, quando a ideia de ‘baixo’, ‘pequeno’ ou ‘diminuir’ era completamente ao contrário do senso de superação da crise. Então todos os textos de economia de ‘baixo’ carbono foram rebatizados para desenvolvimento verde, e daí ficou o verde”, completa.
Segundo a pesquisadora essa volta ao passado joga luz para se entender como é inseparável o debate de economia verde do debate de clima e energia. Para Camila, “é através da política nacional de clima e dos planos de ação dos países que vai se introduzir a ideia de criação de mercado dos ativos ambientais, perdendo toda a construção política do que é a agroecologia e a disputa de sistemas”.
Precificação e propriedade
E esses mercados são a nova fronteira de acumulação do capitalismo. Como exemplo ela cita o próprio relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), que define o “estoque e o fluxo dos serviços ecossistêmicos” como “constituição” do capital natural. “Ou seja, o ‘estoque e o fluxo de serviços ecossistêmicos’ é a polinização das abelhas, a respiração das aves, a água e a fertilidade do solo”, traduz a pesquisadora, acrescentando que, ainda segundo o Pnuma, “o erro da economia marrom é que até agora ainda não conseguiu dar valor (preço) a esses ativos”.
O enredo se dramatiza quando temos um contexto em que “esses ativos”, os recursos naturais, estão cada vez mais escassos. Aí, salienta Camila, entra “a velha e boa garantia de direitos de propriedade sobre esses ativos ambientais”. Ela alerta que no Brasil a questão está explicitada no novo Código Florestal, quando o capítulo 11 cria o Certificado de Cobertura de Reserva Ambiental e dá poderes aos proprietários de terra com excedentes de reserva legal a registrarem e negociarem essas “sobras” em bolsas de valores, as futuras bolsas verdes.
Contra-ataque
Em um cenário de negociação de “excedentes” ambientais o próximo passo torna-se o acúmulo desses “excedentes”, ao mesmo tempo em que as superpopulações citadinas levam os países a serem obrigados a comprarem pacotes de eficiência energética, fechando o círculo acúmulo e venda de “capital ambiental”. É aí que Camila Moreno aponta um dos remédios contra a economia verde. “Temos que questionar essa visão de que a urbanização é um fato inexorável. O quão ideológico são esses dados que estão sendo construídos inclusive pelo IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, em inglês) que condenam o modo de vida rural e reforçam a lógica estrutural de esvaziar os territórios e levar todo mundo para as cadeias de consumo das cidades?”.
(Carta Maior)

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o consumo dos brasileiros deve chegar R$ 2,725 trilhões em 2012.

crescimento superior a R$ 273 bilhões, se comparado com os 2,45 trilhões em 2011. é o que diz o estudo do IPC marketing. dá uma olhada nesse release: http://www.ipcmarketing.com.br/downpress/IPCMaps2012_Release.pdf

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"o desenvolvimento sustentável deve partir do consumo para produção".

Do EcoDesenvolvimento
Leia o post original aqui  



Grandes concentrações urbanas utilizam cerca de 75% do total de energia produzida no mundo. A essas metrópoles, José Luiz Alquéres dá o nome de "energívoras". Ex-presidente da Light e atual presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro, ele defende um uso mais racional da energia, por motivos ambientais, mais principalmente econômicos. Nesta entrevista, Alquéres falou sobre energia limpa, economia verde, cidades sustentáveis e Rio+20. Da conferência, não espera nenhuma grande definição global, apenas sugestões para políticas mais sustentáveis em um futuro próximo.

A Rio+20 é apresentada como o fórum que deverá pautar uma agenda de desenvolvimento sustentável e definir diretrizes políticas para os próximos anos, na qual será necessária a transição para um novo modelo de economia, chamado "economia verde". Qual a sua expectativa para o evento?
José Luiz Alquéres: Como toda reunião com ampla audiência, o nível de generalidade das recomendações tende a ser muito alto, mais ainda quando o tema não encontra muita convergência e alguns países se colocam para tentar, de alguma forma, se apresentarem "sob luzes favoráveis" para a audiência mundial.
Espero apenas que contribua para o aumento de conscientização em relação ao tema. As sugestões de gente qualificada, sociedade civil e prêmios Nobel a chefes de estado serão um aspecto a se considerar. Melhor ainda se encontrarem eco e puderem virar argumento eleitoral nos grandes países, aumentando as chances de virem a ser praticadas.
Essas sugestões, que espero que alimentem os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, deverão se constituir nos guidelines para as ações posteriores. A questão de transformar o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) em um conselho pode ser um avanço, mas, tendo em vista a inoperância e poucos resultados objetivos de grande parte da cara estrutura da ONU, acho que será um resultado pífio caso se limite a isso.

Às vésperas da Rio+20, o termo 'Economia Verde' se tornou bastante controverso. Entidades da sociedade civil acusam empresas e governo de terem se apropriado do termo numa estratégia de embalar o jeito tradicional de fazer negócios numa roupagem verde. Como o senhor analisa esse ponto de vista?
Este tipo de discussão ou de acusação é improdutiva. Nem governo, nem empresas, nem organizações do terceiro setor podem se vangloriar de resultados objetivos, que é o que faz diferença. Todos têm que repensar sua atuação e tentar agir de forma cooperativa em vez de viverem em conflito até mesmo por causa de terminologias.

"Há que se diferenciar os preços dos bens e serviços pelo seu poder negativo ao meio ambiente: quanto mais comprometedor, mais caro deve ser o imposto para desestimular o consumo.

Quais os principais desafios para a governança global, na sua opinião, em estabelecer caminhos para o desenvolvimento sustentável no momento histórico atual, de crise econômica nos países desenvolvidos?
Os caminhos para o desenvolvimento sustentável devem partir de baixo para cima, do consumo para produção, da identificação das necessidades humanas e como atendê-las à luz de uma filosofia de uso mais sustentável daquilo que a natureza coloca à nossa disposição. Uma visão de vida mais frugal, mais ética nas relações com a natureza, mas nem por isso pior.
Para isso, o papel do governo, impondo impostos diferenciados por tipo de produto, capturando no preço por este meio externalidades negativas, seria o fator mais positivo para induzir decisões de consumo que resultassem em comportamentos ambientalmente mais adequados.
O desafio é a exigência de que isso provoque uma mudança nos padrões de taxar produtos, mas é exequível. A maioria dos países pouco taxa a energia elétrica que é de origem térmica em geral. No Brasil, os impostos vão de 40% a 50% do valor da fatura do consumidor final. Ou seja, pode-se ter regimes diferenciados.
Há que se diferenciar os preços dos bens e serviços pelo seu poder negativo ao meio ambiente: quanto mais comprometedor, mais caro deve ser o imposto para desestimular o consumo. Dá para ver que não será uma medida muito popular para a industria do petróleo, para a indústria automobilística...

Foto: Divulgação/Parque Urbano de Lima

Um grupo de cientistas, vencedores recentemente do Prêmio Planeta Azul – considerado o Nobel do Meio Ambiente – defenderam que o PIB não seja mais uma medida única de riqueza dos países, mas que sejam levados em conta também indicadores que avaliem os custos ambientais do crescimento econômico, o chamado “capital verde” dos países, e políticas públicas de incentivo à energia renovável, uso racional de recursos naturais na agricultura.
Você concorda que a transição para um novo modelo de desenvolvimento só se dará desta forma?
Sou contrário a premiar políticas ou programas de ações. Sou favorável à avaliação direta dos benefícios agregados para, aí sim, avaliar os méritos relativos às diferentes estratégias. Programas lindos podem não levar a nada, enquanto coisas simples podem dar belos resultados.
Por exemplo: acabar com estes zoneamentos estúpidos que, impedindo a coexistência de usos residenciais com os comerciais, fizeram do centro das nossas grandes cidades cemitérios noturnos e pressionaram a população para longos deslocamentos entre as residências e o trabalho.
Programas simples deste jeito mudariam para melhor as coisas. Nada contra outros indicadores, mas prefiro desestimular via preço do que por meio de políticas , programas, financiamentos com seus administradores, critérios de enquadramento e esquemas de favorecimento.

Como ex-presidente da Light, você sabe como produção e, consequentemente, consumo de energia são dependentes dos recursos naturais do planeta. Como espera que este tema seja tratado na Rio+20?
Pela ótica das necessidades de energia para realização plena do potencial humano, que são substancialmente menores do que às relativas ao padrão de consumo de um americano médio, padrão este que hoje serve de paradigma para pessoas em vários países.
Quando houve a primeira crise do petróleo, diversas cidades americanas redescobriram a bicicleta como veiculo alternativo. Agora, as mesmas pessoas andam de SUV, os pesados utilitários esportivos que consomem mais combustível do que os veículos regulares. Nos Estados Unidos, existem hoje 800 automóveis como estes para mil habitantes. Na China, esta relação ainda é de 40 para cada mil habitantes.

"Sou a favor de acabar com zoneamentos estúpidos que, impedindo a coexistência de usos residenciais com os comerciais, fizeram do centro das nossas grandes cidades cemitérios noturnos e pressionaram a população para longos deslocamentos entre as residências e o trabalho."

Em que medida, o mundo, que ainda é movido essencialmente à energia oriunda de combustíveis fósseis, será capaz de fazer a transição para uma matriz mais limpa?
A única possibilidade de caminharmos para uma matriz mais limpa está em refletirmos sobre o consumo de energia nas cidades, onde hoje se concentram 75% do consumo total de energia utilizada no planeta. Precisamos adensar as cidades, diminuindo as distâncias, fazendo conviver comércio, trabalho e habitação de uma maneira amigável. No passado aceitava-se bairros industriais poluidores longe dos residenciais. Hoje não se aceita poluir em canto algum, de modo que indústria, comércio e habitação podem coexistir.
Temos que fazer feito o gordo que quer emagrecer: ingerir menos calorias. É pura termodinâmica. Mas tudo isso sem inventar programas mirabolantes e sim nos concentrando na maneira de taxar e de aliviar impostos. É lógico que ao poder público cabem papéis no favorecimento à implantação - por ele ou por terceiros - das devidas infraestruturas.
Pelo lado da geração, não vislumbro grandes ganhos seja em eficiência do parque gerador, seja em transição entre fontes de produção. O segredo estará em gastar bem menos para se obter o mesmo grau de conforto. Ou seja, diminuir a velocidade de expansão da geração. E para isso temos já as tecnologias industriais, os automóveis menores, os eletrodomésticos mais eficientes em termos de consumo de energia, como geladeiras e condicionadores de ar, além da possibilidade de uso
dos transportes públicos.

Como o Brasil se comportará neste contexto, diante da possibilidade de exploração do pré-sal?
Creio que se comportará muito mal. Tentará desenvolver o pré-sal mais rápido do que tem competência para aproveitar um momento favorável de mercado, sofrerá competição do resto do mundo - que jogará os preços para baixo - irá se expôr a riscos de grandes acidentes ecológicos para ter uma receita absolutamente efêmera e permanecerá escravo da venda de commodities de baixo valor agregado para a Ásia. Melhor seria educar o povo numa mentalidade de consciência ambiental e competitiva frente ao mundo globalizado. Custaria menos e daria mais retorno.
Não estou defendendo que se interrompa o pré-sal, mas que se adeque a exploração de seu potencial à expansão. Não há sentido neste monopólio comprador da Petrobrás a preços elevados e qualidade duvidosa, sem falar nas baixas performances operacionais e nos riscos da exploração do meio ambiente. E o que se fala de Petrobrás também se aplica ao setor de exportação de minerais.

Foto: SantaRosa OLDSKOOL

Por mais que tecnicamente seja considerada energia limpa, a energia hidrelétrica tem grandes impactos sociais e é criticada por ambientalistas. Qual a sua opinião sobre o investimento que o Brasil faz na construção de hidrelétricas?
O Brasil durante décadas construiu hidrelétricas de forma sustentável e correta. Após a primeiro choque de petróleo, em 1973, e do segundo, em 1979 , quando a substituição de energia a óleo por hidrelétricas na Amazônia se impôs com rapidez, alguns projetos decididos manu-militari resultaram em alguns empreendimentos de concepção errada, como as usinas hidrelétricas de Balbina, no Amazonas, e de Samuel, em Rondônia, ou de execução gravosa, como a hidrelétrica de Tucuruí, no Pará.
Mesmo assim, o balanço das hidrelétricas históricas é altamente favorável. No final deste período, o setor elétrico elaborou dois PDMAs - Plano Diretor do Meio Ambiente do Setor Elétrico - programa exemplar que vinculava a expansão hidrelétrica à chamada inserção regional dos empreendimentos. Isto não foi levado adiante nesta filosofia e o licenciamento e a implantação que se seguiram, analisados caso a caso, sem visão sistêmica, apenas serviram para aumentar querelas potencializadas por interesses contrariados legítimos e, em muitos casos, por puro oportunismo e “vedetismo”.

Qual a viabilidade hoje, no Brasil, do investimento em energia eólica e energia solar? Quanto estas duas formas de geração de energia representam hoje na matriz energética brasileira e quanto ainda poderão representar?
Energia solar é pouco competitiva ainda que sob a forma de painéis fotovoltáicos e pode ser usada em situações remotas. E o pior: há que se ver direitinho o retorno energético, ou seja, a relação entre a energia usada para se construir o painel versus a energia produzida pelo painel ao longo da sua vida útil.
Feitas as contas, veremos que muitas vezes esta relação excede 10 anos, o que significa que o painel solar fotovoltáico só começa a gerar mais do que consumiu cerca de 10 anos depois de intenso uso. Do ponto de vista econômico, hoje a energia solar não é competitiva. Melhor talvez fosse pesquisar mais e usá-la apenas em situações específicas. O futuro pode ser promissor, mas ainda falta tecnologia.
Já a energia eólica está em processo de grande desenvolvimento tecnológico e de grandes frustrações comerciais. As instaladas no Brasil tiveram performance 30% abaixo das previsões no ano passado. Embora cara, estimo que a produção de energia eólica possa se inserir de forma competitiva na nossa matriz, representando talvez uns 10% da capacidade instalada dela em 5 anos, mesmo que sua geração efetiva neste cenário não represente nunca mais do que uns 3 % do consumo total do pais .


As concentrações urbanas são grandes consumidoras de energia. E o senhor disse certa vez que as cidades não podem mais se dar ao luxo de serem “energívoras”. Qual o papel das empresas concessionárias de energia nessa mudança de comportamento?
As cidades são “energívoras” porque nas residências, comércios, indústrias e transporte público e individual devoram 75% do total da energia produzida. As empresas de energia elétrica são fornecedoras de uma parte disso, como são as companhias de petróleo e de gás.
Creio que as empresas de energia devam advogar sempre o uso mais racional, porque o custo de obtenção de uma unidade adicional de energia sempre é superior ao custo médio do que ela vem se aprovisionando. E como o preço de venda é regulado, quanto mais ela vende mais diminui a sua margem.



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14 de maio de 2012

o futuro que nós queremos. vik muniz, paulo coelho, mv bill e outros "eu" que também são "nós".



Unic Rio
O Futuro que Nós Queremos | Rio+20
Todos nós podemos dar nossas opiniões, ideias e sugestões para o futuro. Partindo desse princípio, lançamos a campanha "Eu sou nós". Para chamar a atenção de cada um, mas não como indivíduo, e sim como um todo. Participe também em http://bit.ly/JnEn3P

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o futuro que nós queremos.




unic rio 
Todos nós podemos dar nossas opiniões, ideias e sugestões para o futuro. Partindo desse princípio, lançamos a campanha "Eu sou nós". Para chamar a atenção de cada um, mas não como indivíduo, e sim como um todo. Participe também em http://bit.ly/JGnF1c


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13 de maio de 2012

contra a felicidade. against happiness.

autor: dr. eric wilson

via luis nassif

against happiness

do blog cinegnose


Capa do livro 
"Against Happiness"




" Neste momento a sociedade reúne todo um arsenal médico-terapêutico-psicológico-farmacêutico para extirpar o mal que atormenta milhares de almas: a melancolia. O professor de literatura inglesa da Wake Forest University Erik Wilson vê na obsessão pela busca da felicidade na atual sociedade de consumo como uma desconsideração medrosa do valor da tristeza: a agitação da alma que se transforma no impulso vital de toda cultura próspera. Se o Prozac existisse desde séculos atrás, certamente não veríamos hoje muitas obras primas nos campos da literatura, pintura e ciências. Esse é o tema do recente livro de Wilson “Against Happiness: in praise of melancholy”

Na última postagem (veja links abaixo) discutíamos a possibilidade da existência de um efeito político na banalização de antidepressivos: a criação de um novo conservadorismo decorrente de um efeito colateral do consumo banalizado desses medicamentos, o chamado “efeito zumbi”. Tal efeito poderia ser descrito como um mix de euforia, apatia e perda de senso crítico. Em síntese, embotamento e uma visão “suavizada” ou abrandada dos fatos da vida (sejam políticos ou pessoais).

Oportunamente li o livro “Against Happiness: in praise of melancholy” (“Contra a Felicidade: em defesa da melancolia”) do professor de literatura inglesa da Universidade Wake Forest da Carolina no Norte – EUA, Erik Wilson. O autor é bem conhecido por esse blog a partir do seu livro “Secret Cinema: gnostic vision in film” onde ele descreve as conexões entre as narrativas míticas do gnosticismo clássico e a produção cinematográfica hollywoodiana atual.

Profundo conhecedor do gnosticismo na literatura romântica dos séculos XVIII e XIX, Wilson nos oferece uma abordagem sobre a melancolia como uma força vital de qualquer cultura próspera, literatura, pintura, música, inovação, ou seja, a força que subjaz a toda ideia original. O problema é que a nossa cultura, baseada no vício da busca a todo custo da felicidade, alimenta uma desconsideração medrosa do valor da tristeza. Neste exato momento, toda a cultura midiática e indústria farmacêutica empreendem uma verdadeira repressão da melancolia, da tristeza e demais agitações da alma para expulsá-las do sistema como fossem meramente lamentos de um paciente neurótico.

Francisco de Goya, Emily Dickinson, Marcel Proust e Abraham Lincoln, todos eles eram melancólicos confirmados. Para Wilson, se em suas épocas existisse Prozac jamais a história humana contaria com suas obras-primas.



Erik Wilson - Professor de literatura inglesa da 
Wake Forest University - Carolina do Norte
Wilson evita cair no romântico elogio da loucura. Ele distingue a depressão clínica (“muitas almas perdidas requerem medicação para não matarem-se ou para não causar dano aos seus entes queridos”) da melancolia. Porém, há toda uma cultura que leva um melancólico a tomar antidepressivos para que a sua carranca possa se transformar no sorridente rosto afável, agradável e conformado com a realidade.

Para o autor, depressão e melancolia são duas formas de tristeza separadas por uma tênue fronteira:
“Uma linha muito delgada separa o que eu chamo de melancolia e o que a sociedade chama de depresssão. Para mim, o que as separa é o grau de atividade. Ambas são formas de tristeza mais ou menos crônica que conduz a um incomodo duradouro com o estado de coisas, sentimentos persistentes de que, tal como está, o mundo não está bem e é um lugar de sofrimento, estupidez e mal. Frente a esse incomodo, a depressão causa apatia, uma letargia que se aproxima da paralisia (...). Pelo contrário, a melancolia gera uma relação com a mesma ansiedade um sentimento profundo, uma turbulência no coração que desemboca no questionamento ativo do presente, um desejo perpétuo por criar novas formas de ser e de ver” (WILSON, Erik.Against Happiness, New York: Sarah Crichton Books, 2008,p. 8.).
Sabendo que o autor é um grande conhecedor das narrativas míticas do Gnosticismo clássico, não é por acaso que encontramos na sua abordagem sobre a melancolia ecos do pensamento do pensador gnóstico Mani (viveu no Irã no século III DC e sua região floresceu por séculos tornando-se a principal fonte de transmissão da tradição gnóstica). Para Mani, a melancolia era, por assim dizer, um estado alterado de consciência que propiciaria a gnose. Mani propunha uma melancolia ativa a partir de um desdém de tudo ao redor, principalmente das formas de consolação como o Cristianismo e o hedonismo.

Melancolia e “Polaridade Vital”

O livro “Contra a Felicidade” parte de dois pressupostos. Primeiro, a mídia nos passa duas mensagens contraditórias: de um lado, nos informa diariamente que o mundo está à beira do abismo (ameaças ecológicas, apocalipse climático, perigo nuclear, violência etc.) e, ao mesmo tempo, nos diz que temos que ser felizes. Wilson aponta para uma pesquisa realizada pela Pew Research Center onde os números indicam que 85% dos norte-americanos são muito felizes ou, pelo menos, felizes. Como pode haver tanta gente feliz com a enorme quantidade de problemas que aflige o planeta?

Está claro que o tipo de felicidade que está sendo incentivada é a da feliz adaptação: indivíduos suaves e embotados em sua capacidade crítica e de indignação.

O segundo pressuposto é simples e direto: quem disse que devemos ser felizes? Em qual passagem da Bíblia ou da Constituição se diz isso? A questão é que o tipo de felicidade promovida pela nossa cultura alimenta uma ignorância sobre uma “polaridade vital” entre agonia e êxtase, abatimento e efervecência. O que Wilson entende por “polaridade vital” é mais um eco do pensamento gnóstico de Mani: o cosmos é uma atribulada dança de opostos – Bem e Mal, Euforia e Tristeza, gozo e melancolia e assim por diante.

É o chamado “pensamento maniqueísta” do gnosticismo clássico: a dinâmica do cosmos é comandada pela luta entre o Bem e o Mal, “opostos” que jamais chegarão a uma síntese dialética, mas que, na verdade, constituem em duas entidades reversíveis que resultam em um único movimento. Uma entidade ao mesmo tempo tensa e complementar. Polaridades que, simultaneamente, manifestam-se como entidades reversíveis que criam a tensão vital que dá o vir-a-ser do cosmos.

Wilson nos dá dois exemplos de manifestação dessa polaridade vital: o nascimento e a morte. Ao testemunharmos o nascimento de uma criança nosso rosto sorridente é banhado por lágrimas. Ao mesmo tempo em que celebramos o estalo de uma vida nova, também é um lamento da trágica queda do recém-nascido na dor desse mundo. Somos invadidos por esses sentimentos contraditórios e, dessa maneira, nos damos conta de que os momentos mais intensos da vida são onde melancolia e gozo e euforia e tristeza juntos produzem a “valsa sobressaltada do cosmos”.

Em um funeral também sentimos uma estranha mescla de medo e esperança, tristeza e alegria. Todos estão tristes ao testemunhar mais um que está pronto para regressar à terra fria. Porém, recordamos que estamos vivos e nos alegramos por essa boa sorte. Não é à toa que os funerais negros de New Orleans  são acompanhados por bandas de jazz que alegremente tocam acompanhando o velório (o “jazz funeral” cujas origens estão em práticas espirituais africanas e nas tradições marciais francesas e espanholas).

O universo congrega supreendentes antinomias. Ao apreendermos essa polaridade cósmica, sentimos o atrito desses sentimentos paradoxalmente opostos e encontramos a paz e a graça: de que nossas agitadas unidades estão em perfeita sincronia com o caótico todo.

Teologia Negativa

Mais uma vez, encontramos em Wilson ecos de outro princípio gnóstico: a teologia negativa ou pensamento apofático. Descrever Deus através da via da negação, ou seja, falar sobre a existência de Deus a partir de termos que não podem ser ditos sobre Ele é o que se denomina Teologia Negativa. Se Deus existe está além do que a linguagem pode expressá-lo. Se nenhuma palavra ou qualidade pode defini-Lo, então devemos partir para a via da negação.  Esse método apofático de pensamento lida com ironias e paradoxos: negar algo pela afirmação e vice-e-versa

Tristeza e melancolia nos causam dor. Toda a sociedade mobiliza um arsenal de terapias, livros de auto-ajuda e drogas para eliminá-las do horizonte da nossa experiência. São pensadas como opostas à felicidade. Porém, persistem em nos assombrar. Mas, como comprova toda a história da literatura (Wilson vai descrever os casos de William Blake e Emily Dickinson)  a melancolia é negada na medida em que ela é afirmada, enaltecida e não eliminada como uma doença.

A dor provocada pela melancolia não é tanto pela tristeza em si, mas por ser o testemunho da ilusão dos modelos de felicidade propagados pelo mercado farmacêutico e pela mídia. Ao tentar enquadrar a melancolia dentro dos modelos médicos e terapêuticos, perde-se de vista que a existência nesse mundo é marcada pela experiência dos opostos, da polaridade vital.

A conclusão que chegamos ao final do livro “Against Happiness” é que a melancolia deve ser afirmada, ativa, para que possa ser simultaneamente negada. Nossa linguagem é vítima de uma lógica binária que coloca as qualidades sempre em pares opostos. Não consegue apreender paradoxos, ironias e simetrias caóticas. Por isso, a melancolia somente pode ser compreendida indo além da binaridade felicidade/tristeza.

Ficha Bibliográfica

  • Título: “Against Happiness: in praise of melancholy”
  • Autor: Erik G. Wilson
  • Origem: New York – EUA
  • Editora: Farrar, Straus and Giroux Books
  • Ano: 2008
  • ISBN: 13.978.374.24066-0
  • Palavras-chave: 1.Depressão-psicologia 2.Criatividade 3.Depressão-história 4.Droga Terapia-efeitos adversos 5.Literatura



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