28 de julho de 2012

Marina effect.

#London2012 - I don´t know your opinion but seeing Marina Silva, Brazilian activist, in London was better for Brazil than some people against her political view can imagine. But I have to say it was even better to The UK. During the awesome opening ceremony I haven´t heard a word about environment. So Marina played this role: "Don´t say we don´t give a shit for environmental issues". She represents a romantic view about the forest and confirms every stereotype about Latin America and Brazil. Dilma represents a different Brazil. Guess which Brazil would be suitable to this event. Some Brazilian newspapers are saying that Dilma became smaller there because of Marina. Dilma was there because she´s President. Marina was invited as a green and inspiring star - and she is both. If it was Lula (inspiring star and President at the same time) this comparison would be OK. Anyway, I am happy because Marina was there. If there is a word for her, this word is inspiration. The world is in need of inspiration. The first world. Indeed.  



#London2012 
Me julguem, mas na admiração olímpica pela liderança mundial que a Marina é (e ela é, doa a quem doer) e no suposto desprestígio de Dilma tem MUITO do cinismo da cerimônia. Poucos eventos jogam tanto com estereótipos dos países. Não vai aí um julgamento eleitoral, mas Dilma está na contramão do que se "espera" de um país latino-americano. Marina é o símbolo romântico da floresta, do voluntarismo, daquele que "veio de baixo". Além disso, numa abertura que elogiou a Revolução Industrial, a tecnologia e o consumo, sem nenhuma menção ao tema ambiental, o destaque de Marina serviu bem ao contraponto do tipo: "não diga que não falamos do meio ambiente". Entre os dois brasis a destacar, esse interessava mais. Embora veja assim o destaque à Marina, fiquei feliz por vê-la ali. Se há uma palavra para Marina, essa palavra é inspiração. E o mundo tá precisando demais disso. Principalmente, o desenvolvido.  


Em tempo: o "suposto desprestígio" é pela repercussão na imprensa, destacando que ninguém sabia que Marina estaria lá e muito menos com esse foco, que teria rolado desconforto etc... Da minha santa ignorância, acho que a cobertura da presença da presidenta, comparada com a de outros líderes, não foi em nada desprestigiada. Dilma é presidenta. Marina foi à festa como importante liderança ambientalista mundial, que é. São papéis, presenças, participações, holofotes beem diferentes. Se fosse o presidente Lula, que juntava carisma e liderança mundial e posto oficial, daí sim, teria alguma margem de comparação.

Marina Silva causa mal estar entre ministros em Londres

Agência Estado

Londres, 28/07/2012 - A presença da ex-ministra Marina Silva na cerimônia de abertura da Olimpíada de Londres causou mal estar entre os ministros do governo de Dilma Rousseff. A participação pegou a todos de surpresa.
Marina entrou carregando a bandeira com os anéis olímpicos juntamente com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, o maestro argentino Daniel Barenboim e prêmios Nobel. O convite partiu do Comitê Olímpico Internacional, sem o conhecimento do governo brasileiro, e foi mantido em sigilo. A ex-ministra é reconhecida internacionalmente por seu trabalho de defesa do meio ambiente.
A situação cria constrangimento porque Marina não tem boas relações com Dilma Rousseff e acabou encobrindo a presença da presidente do próximo país-sede da Olimpíada na cerimônia de abertura de Londres, ontem. "Marina sempre teve boa relação com as casas reais da Europa e com a aristocracia europeia", disparou o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, adversário político de Marina na polêmica do Código Florestal. "Não podemos determinar quem as casas reais escolhem, fazer o quê?"
O presidente da Câmara, Marco Maia, disse que a primeira reação foi de surpresa. Para ele, o COI deveria ter feito um melhor trabalho de comunicação com o governo brasileiro. "É óbvio que seria mais adequado por parte do COI e da organização do evento que houvesse um diálogo de forma mais concreta com o governo brasileiro para a escolha das pessoas", disse, sem deixar de reconhecer a importância do trabalho ambiental de Marina.
Para outro membro da delegação, que pediu para não ser identificado, o que o COI fez foi o equivalente a convidar um membro da oposição britânica para um evento no Brasil que tenha o governo de Londres como convidado especial.
Ao Grupo Estado, Marina explicou que só recebeu o convite na ultima terça-feira, dia 24. Sobre Dilma, insistiu em não criar polêmica, dizendo que "sentia orgulho" em ver a primeira presidente mulher do país na arquibancada do estádio olímpico.
Ontem, Dilma foi mostrada pelas câmeras oficiais por menos de cinco segundos, enquanto a entrada de Marina foi amplamente comentada, como representante da luta ambiental no mundo. O ministro do Turismo, Gastão Vieira, só ficou sabendo da presença de Marina já no Estádio Olímpico. "Foi surpresa", disse o ministro da Ciência, Marco Antonio Raupp.
Os governos do Brasil e o Reino Unido vêm mantendo relação estreita e diversas iniciativas de cooperação para a preparação dos Jogos. Mesmo assim, o relacionamento não impediu a situação de saia justa para a comitiva de Dilma em Londres. (Daniela Milanese e Jamil Chade, correspondentes)


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22 de julho de 2012

o consumismo: uma doença?

0/07/2012 10:56:33

O consumismo: uma doença?

Marcelo Colussi*
No coração da selva do Petén, no que atualmente é a Guatemala, no cume do Templo IV, joia arquitetônica legada pelos mayas do Período Clássico, duas jovens turistas estadunidenses – com roupa Calvin Klein, com sapatos Nike, com óculos escuros Rayban, com telefones celulares Nokia, câmeras fotográficas digitais Sony, videofilmadoras JVC e cartão de crédito Visa, hospedadas no hotel Westing Camino Real e tendo viajado com milhas de “viajante frequente” por meio de American Air Lines, hiperconsumidoras de Coca-Cola, Mc Donald’s e de cosméticos Revlon -, comentavam ao escutar os gritos de macacos nas copas das árvores próximas: “Pobrezinhos, gritam de tristeza, porque não têm por perto um ‘super’ onde possam fazer compras”…
Consumir, consumir, hiperconsumir, consumir mesmo que não seja necessário; gastar dinheiro; ir ao shopping… Tudo isso passou a ser a consigna do mundo moderno. Alguns – os habitantes dos países ricos do Norte e as camadas acomodadas dos do Sul – conseguem sem problemas. Outros, os menos afortunados – a grande maioria do planeta – não; porém, da mesma forma são compelidos a seguir os passos ditados pela tendência dominante: quem não consome está out; é um imbecil; sobra; não é viável. Mesmo correndo o risco de endividarem-se, todos têm que consumir. Como ousar contradizer as sacrossantas regras do mercado?
Poderíamos pensar que o exemplo das jovens acima apresentado é uma ficção literária –uma má ficção, por certo-; porém, não: é uma tragicômica verdade. O capitalismo industrial do século XX teve como resultado as chamadas sociedades de consumo onde, asseguradas as necessidades primárias, o acesso a banalidades supérfulas passou a ser o núcleo central de toda a economia. Desde a década dos 50, primeiro nos Estados Unidos, em seguida na Europa e no Japão, a prestação de serviços superou a produção de bens materiais. Supostamente, os bens massivos suntuários ou destinados não somente a garantir a subsistência física (recreação, compras não unitárias, mas por quantidades, mercadorias desnecessárias, porém impostas pela propaganda etc.) encabeçam a produção geral. Por que essa febre consumista?
Todos sabemos que a pobreza implica carência, falta; se alguém tem muito é porque outro tem muito pouco, ou não tem. Em uma sociedade mais justa, chamada socialismo, “ninguém morrerá de fome porque ninguém morrerá de indigestão”, disse Eduardo Galeano. Não é necessário um doutorado em economia política para chegar a entender essa verdade. Porém, contrariamente ao que se poderia considerar como uma tendência solidária espontânea entre os seres humanos, quem mais consome anseia, mais do que tudo, continuar consumindo. A atitude das sociedades que têm seguido a lógica do hiperconsumo não é de detê-lo, repartir tudo o que se produz com equidade para favorecer aos despossuídos, deter o saqueio impiedoso dos recursos naturais. Não, ao contrário, o consumismo traz mais consumismo. Um cachorro de uma casa de classe média do Norte come uma média anual de carne vermelha maior do que um habitante do Terceiro Mundo.
Enquanto muita gente morre de fome e não tem acesso a serviços básicos no Sul (água potável, alfabetização mínima, vacinação…), sem a menor preocupação e quase com frivolidade são gastas quantidades incríveis em, por exemplo, cosméticos (8 bilhões de dólares anuais nos Estados Unidos), ou sorvetes (11 bilhões anuais na Europa), ou comida para mascotes (20 bilhões anuais em todo o primeiro mundo). Então, nó seres humanos somos uns estúpidos e superficiais individualistas, desperdiçadores irresponsáveis, compradores vazios compulsivos? Responder afirmativamente seria parcial, incompleto. Sem dúvida, todos podemos entrar nessa louca febre consumista; a questão é ver porque esta é instigada, ou ainda mais: fazer algo para que esta não continue sendo instigada. Isso leva a reformular a ordem econômico-social global vigente. Essa loucura não pode continuar!
Mas, é certo que nas prósperas sociedades de consumo do Norte surgem vozes chamando a uma ponderada responsabilidade social (consumos racionais, energias alternativas, reciclagem dos desperdícios, ajuda ao subdesenvolvido Sul…), não devemos esquecer que essas tendências são marginais, ou, pelo menos, não têm a capacidade de incidir realmente sobre o todo.
Recordemos, por exemplo, o movimento hippie, dos anos 60 do século passado: apesar de que representava um honesto movimento anticonsumo e um questionamento aos desequilíbrios e injustiças sociais, o sistema finalmente acabou devorando-o. Dito seja de passo: as drogas ou o rock and roll, suas insígnias das décadas dos 60 e 70, acabaram sendo outras tantas mercadorias de consumo massivo, geradoras de grandes lucros (não para os hippies, precisamente!).
Uma vez fomentado o consumismo, tudo indica que é muito fácil –muito tentador, sem dúvida- ficar seduzido por suas redes. Por exemplo: os polímeros (as distintas formas de plástico) constituem uma invenção recente na história; no Sul chegam em meados do século XX; porém, hoje, nenhum habitante de nenhum empobrecido país poderia viver sem eles; e, de fato, em proporção, são consumidos mais nos países empobrecidos do que no mundo desenvolvido, onde começa a haver uma busca por material reciclado. Por diversos motivos (para estar na moda que lhe impuseram?), é mais provável que um pobre do Terceiro Mundo compre uma cesta de plástico do que de cipó. O consumismo, uma vez em marcha, impõe uma lógica própria da qual é difícil desvencilhar-se. É “aditivo”…
Do mesmo modo, e sempre nessa dinâmica, vejamos o que acontece com o automóvel. Atualmente, é mais do que sabido que os motores de combustão interna –ou seja: os que rendem tributo à monumental indústria do petróleo- são os principais agentes causadores do efeito estufa; sabe-se que produzem um morto a cada dois minutos em escala planetária devido aos acidentes de trânsito, inconvenientes que poderiam ser resolvidos ou pelo menos minimizados com o uso massivo de meios de transporte público, mais seguros em termos de segurança individual e ecológica (um só motor pode transportar cem pessoas, por exemplo; porém, até que não se acabe a última gota de petróleo não haverá veículos impulsionados por energias limpas: água ou sol, por exemplo).
Um motor queimando combustíveis fósseis por pessoa não é sustentável a largo prazo em termos meioambientais; porém, curiosamente, para os primeiros 25 anos do século em curso, as grandes corporações de fabricantes de automóveis estimam vender 1 bilhão de unidades nos países do Sul, e os habitantes dessas regiões do globo, sabendo de tudo o que se escreveu acima e conhecedores dos disparates irracionais que significa mover-se em cidades atoladas de veículos, estão festejando o boom dessas máquinas fascinantes.
Nessa lógica, quem pode, mesmo endividando-se durante anos, faz o impossível para obter seu “zero quilômetro”. Tudo isso nos leva a duas conclusões: por um lado, parece que todos os seres humanos somos muito manipuláveis, fáceis de convencer (os publicitários sabem disso perfeitamente). A semiótica ou a psicologia social de cunho estadunidense, centrada no manejo mercadológico das massas, dizem o mesmo. Se não fosse assim, George W. Bush, um alcoólatra recuperado, pouco douto nas lides políticas, não poderia ter sido presidente de seu país por duas gestões (graças a um vídeo sensacionalista em sua segunda campanha presidencial, por exemplo, que explorou os medos irracionais do eleitorado); ou o cabo de exército alemão Adolf Hitler não poderia ter feito o “educado” povo alemão acreditar ser uma raça superior e levá-lo a um holocausto de proporções dantescas.
Porém, por outro, como segunda conclusão –e isso é, sem dúvida, o nó górdio do assunto- as relações econômico-sociais que desenvolveram com o capitalismo não oferecem saída a essa cilada da dinâmica humana. O grande capital não pode deixar de crescer; porém, não pensando no bem comum: cresce, da mesma forma que um tumor maligno, de forma descontrolada, desordenada, sem sentido. Para que a grande empresa tem que continuar se expandindo? Porque sua lógica interna o força a isso; não pode deter-se, mesmo que isso não sirva para nada em termos sociais. Por que os milionários donos de suas ações têm que continuar sendo cada vez mais milionários? Porque a dinâmica econômica do capital o força; porém, não porque esse crescimento sirva à população. E esse crescimento, justamente –como tecido cancerígeno- se faz a expensas do organismo completo, do todo social, nesse caso; fazendo-se consumir, consumir o desnecessário; depredando recursos naturais e tornando-nos cada vez mais bobos; manipulando nossas emoções através das técnicas de comércio, para que continuemos comprando. “Pobrezinhos, gritam de tristeza, porque não têm por perto um ‘super’ onde possam fazer compras”…
Ditando modas, fixando padrões de consumo, obrigando a mudar desnecessariamente os produtos com ciclos cada vez mais curtos (obsolescência programada), fazendo sentir um “selvagem primitivo” a quem não segue esses níveis de compra contínua, com refinadas –e patéticas- técnicas de comercialização (propaganda enganosa, manipulação midiática que não dá sossego, crédito pré-aprovado…), o grande capital, dominador cada vez mais absoluto do cenário econômico-político-cultural do planeta, impõe o consumo com mais ferocidade que as forças armadas que o defendem lançam bombas sobre territórios rebeldes que resistem a seguir esse roteiro.
Por certo que, dadas certas circunstâncias, o “consumismo” desenfreado poderia ser considerado como uma conduta patológica. De fato, na Classificação Internacional das Enfermidades (CIE), da Organização Mundial da Saúde, bem como no Manual de Transtornos Mentais, da Associação de Psiquiatras dos Estados Unidos (DSM), versão IV, aparece como uma possível forma das compulsões. E, a partir dessa matriz médico-psiquiatrizante, a “compra compulsiva” pode chegar a ser descrita como uma categoria diagnóstica determinada. “Preocupação frequente com as compras ou o impulso de comprar, que se experimenta como irresistível, invasivo e/ou sem sentido. Compras mais frequentes do que uma pessoa se pode permitir e de objetos que não são necessários, ou sessões de compras durante mais tempo do que se pretendia”.
Sem negar que isso exista como variável psicopatológica (“Calcula-se que a compra compulsiva atinge entre 1.1% e 5.9% da população geral e é mais comum entre as mulheres do que entre os homens”), o consumismo voraz que o sistema nos impõe é mais do que uma conduta compulsivo-aditiva individual. Em todo caso, nos fala de uma “enfermidade” intrínseca ao próprio sistema. Se as jovens do exemplo que dei no começo desse artigo são tão “estúpidas”, frívolas e superficiais, são apenas o sintoma de um transtorno que se move atrás delas. Transtorno que, certamente, não se resolve com nenhum produto farmacêutico, com um novo medicamento milagroso, com outra mercadoria a mais para consumir, por melhor apresentada e por mais publicidade que tenha. Ao contrário, se resolve mudando o curso da história.
* Marcelo Colussi é escritor e politólogo argentino. Atualmente radicado na Venezuela
(Adital)

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16 de julho de 2012

para (muito) além do desenvolvimentismo e da catástrofe. por hugo albuquerque.

DOMINGO, 15 DE JULHO DE 2012

Para (Muito) Além do Desenvolvimentismo e da Catástrofe

do blog O Descurvo - Por  Hugo Albuquerque
A notícia de uma catástrofe

Não resta dúvida que estamos diante de uma crise ambiental. 
Nem que, antes disso, uma crise aguda na coexistência humana 
foi instalada pela instalação do capitalismo. A questão não é 
que há uma crise ambiental e social, mas há uma grande e 
permanente doença instalada que se manifesta de variadas formas, 
estourando na forma de crises. A aparente incomunicabilidade 
entre um ecologismo radical e um socialismo ortodoxo, 
no entanto, sempre escondeu a visão reduzida de ambos 
frente a esse estado de coisas.  

É essa polêmica que o sempre atento João Telésforo
no belíssimo post Do ambientalismo catastrofista 
a ecologia dos desejos,  acendeu. Basicamente, 
João passa por questões caras e polêmicas que gravitam 
em torno da questão ambiental: crítica ao desenvolvimentismo 
e ao catastrofismo, emergência ambiental, relação com a 
questão social etc. E foi nessa direção queBruno Cava 
completou e avançou no incendiário É preciso consumir mais.

Pois bem, vamos começar do começo: ninguém 
tem dúvidas da gravíssima crise ambiental - muito menos o João, 
como ele expõe claramente -, mas eu arrisco em dizer que 
o posicionamento em relação ao paradigma da catástrofe - 
como prisma para a leitura dessa crise - consiste em 
uma divergência válida e importante. Porque isso embica 
nas propostas de alternativas para o modelo e qual 
a função do negativo nisso tudo. Por exemplo, políticas 
dedecrescimento são uma saída?

Cá, a exemplo do João, concordamos que uma 
saída que proponha algo como "desejem menos!
está fadada ao fracasso - e friso: um fracasso semelhante 
ao que experimentou a economia planificada, justamente 
por propor isso, concordando com Bruno.  
Eis aí a importância de uma ecologia dos desejos


Curiosamente ou não, ecologistas radicais e socialistas ortodoxos, 
apesar de divergirem entre si, se encontram precisamente aí, 
na pretensão idealista de busca a resolução pela resignação 
em nome de uma necessidade maior e transcendental, 
o que passa desde o "faça a sua parte!" 
(como o ingênuo fechar as torneiras enquanto se escova os dentes) 
até a adoção de políticas restritivas radicais, a partir 
das quais não se constrói uma alternativa 
nova de produção.

Uma dessas políticas restritivas é o descrescimentismo. 
Ela está inserida no mesmo binarismo que uma política 
crescimentista, mas apenas se reporta ao outro pólo de 
forma inversa. É continuar ratificar a mesma métrica 
e a mesma gramática do capital, de forma invertida, 
enquanto a linha de fuga para tanto está bem além 
de uma bifurcação expressa na forma 
crescimento-decrescimento, lucro-prejuízo 
ou proletarização-desemprego. 
Do mesmo modo que a experiência (neo)liberal 
dos últimos anos nos ensina que não há 
crescimento sem acentuação, de algum modo, 
da gestão estatal, também não há decrescimentismo 
fora da mesma lógica, só que ela precisaria organizar-se 
sintetizando tudo para produzir um desinvestimento 
massivo do desejo.

No que toca ao exemplo do proletarização-desemprego, 
é evidente que a conversão de variados setores da multidão
 - como índios, mendigos, quilombolas etc -  
em uma massa de trabalhadores empregados 
não é saída - ao contrário do pretende, por exemplo, 
o marxismo uspiano -, mas supor que uma condição 
de desemprego massificado não seja um problema 
é, certamente, ingênuo: nela, aquelas subjetividades 
todas, já convertidas em massa proletária, 
estão apenas descartados pelo sistema. 
Eles estão inutilizados dentro de um 
sistema utilitarista, não libertos dele. 


E ainda que o exemplo acima seja de como não se 
escapa de um binarismo recorrendo à inversão 
de seu pólo, é preciso anotar que decrescimentismo 
também não está desvinculado de produção 
de desemprego, nem que desemprego 
não seja um catástrofe - por vezes desejada 
por socialistas ortodoxos dentro do contexto 
da crise mundial para, daí, as massas se 
conscientizarem à força da necessidade da revolução. 
A catástrofe, o limite do mundo (ou do sistema econômico) 
aparece como forma de pensar a partir da impotência 
e não da potência infinita (portanto, de alternativas sem fim). 

Voltemos a crescimento-decrescimento. 
A produção está, em qualquer uma 
dessas hipóteses, traduzida em uma linguagem 
quantitavista. E qualquer uma delas, 
a produção precisa estar regulada por um 
esquema gestionário que obrigue produzir mais ou menos. 
O decrescimentismo, no entanto, é, reiteramos, 
uma inversão dentro da mesma racionalidade que 
é ratificada e sua aplicabilidade é ela mesma ilusória, 
servindo a outro fim na prática de sua aplicação - 
seja ele sua inaplicabilidade ou seu aparelhamento com outros fins.

Isso não quer dizer que não haja um problema 
de exaurimento dos recursos naturais, nem que 
estejamos consumindo demais, mas não é da
 resignação do consumo pessoal que iremos nos 
libertar do capital, inclusive porque, como 
lembram os mestres Deleuze e Guattari 
no próprio Anti-Édipo, que estejamos falando 
de grandezas  iguais quando tratamos de salários e lucros:


"Deveriam [os capitalistas e seus economistas] 
antes concluir que o teimam em esconder, 
a saber, que o dinheiro que entra no bolso assalariado 
não é o mesmo que se inscreve no balanço de uma empresa" (p. 271)

Quando se defende aumento de consumo, estamos 
falando de qual consumo e de como o exaurimento 
que isso produz no funcionamento do capitalismo 
abre enormes linhas de fugas. Por isso, por óbvio, 
o aumento do consumo por parte dos pobres 
no Brasil contemporâneo é positivo, uma vez que 
reorienta o próprio sentido da produção na direção 
das demandas sociais - que, naturalmente, 
está aberto a capturas, como qualquer forma de resistência.

O capitalista, no entanto, sempre está numa posição 
complexíssima: deseja os preços salariais menores 
possíveis (zero?) e, ao mesmo tempo, precisa de 
mercados consumidores (com qual riqueza social?). 
Isso explica desde os movimentos imperialistas - 
conquista de mercados consumidores - até as constantes 
crises no capital - a destruição dos próprios mercados 
consumidores para garantir a posse dos meios de produção 
ameaçada por trabalhadores financeiramente empoderados 
(e o surgimento de uma economia financeira, a nosso ver, 
tem mais a ver com a necessidade de acentuação 
de controle dos trabalhadores por meio da dívida 
que uma nova forma de ganhar dinheiro, 
embora também o seja).


Não é, por certo, o crescimento - ou se preferirem, 
o desenvolvimento - que alimenta a linha de fuga 
do empoderamento multitudinário, mas o 
empoderamento salarial dos trabalhadores e, 
inclusive, a remuneração não-laboral na forma 
de renda como no caso do bolsa família - 
seja lá a consequência que isso produza 
sobre o crescimento. O problema do desenvolvimentismo 
é justamente inverter essa direção, mesmo 
que seja para produzir vínculos e relações sociais e,  
também, por ignorar estrategicamente a posição 
absolutamente insana do capitalista - pretendendo "racionalizar" 
o capitalista, lhe ensinando o que é capitalismo, 
quando na verdade se expõe à sua sanha de vingança.


O ambientalismo radical ao dizer "consumam menos" 
ou "decresçamos" torna-se politicamente impotente, 
exceto na condição de discurso útil para ajudar
 a justificar políticas de austeridade mais sofisticadas, 
os reajustes que capitalistas bancam, de tempos 
em tempos, para garantir sua propriedade agora, 
quem sabe legitimados pela necessidade salvar a terra 
- não pela constituição de novos circuitos produtivos sustentáveis 
(portanto, anti-capitalistas), mas sim pela desprodução 
(o decrescimento) dentro do próprio âmbito capitalista. 
A saída para isso, exige pensar a produção para muito 
além da linguagem do capital e seus movimentos 
de avanço contínuo (ou recuos estratégicos).

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é preciso consumir mais. por bruno cava.

Quadrados dos Loucos - Publicado em 14 de julho de 2012
É preciso consumir mais
Por Bruno Cava
“Retirar-se do mercado mundial, numa curiosa renovação da ‘solução econômica’ fascista? Ou ir no sentido contrário, isto é, ir mais longe no movimento do mercado? Não retirar-se do processo, mas ir mais longe,acelerar o processo, como dizia Nietzsche: a esse respeito, nós ainda não vimos nada.” – Gilles Deleuze e Félix Guattari, em O anti-Édipo
Talvez o caminho não seja consumir menos, mas de um jeito diferente; canalizar nossos desejos de outras maneiras, para outros e novos objetos. O socioambientalismo fracassará, se a sua mensagem às pessoas for: ‘desejem menos” – João Telésforo, em Do ambientalismo catastrofista à ecologia dos desejos (no Brasil & Desenvolvimento)
Consumir é produzir. Já consumir o consumo é cortar o circuito.” – Eduardo V. de Castro, via tuíter [Hélio Oiticica também falava em consumir o consumo]
Para quebrar Belo Monte, índios fazem o que os operários fordistas faziam em 1969: nós queremos tudo!” – Giuseppe Cocco, via tuíter
O capital não cria apenas objetos para os sujeitos consumirem, mas cria também sujeitos para os objetos de consumo.” – Karl Marx
—–
Uma coisa que sempre me incomodou em debates críticos ao consumismo é como geralmente se dão entre pessoas bem situadas. Estou falando de longos debates sobre como na nossa sociedade se consomem coisas demais, como a nossa cultura ocidental é baseada na superprodução do supérfluo, no desperdício. Mas não é tão polêmico quanto parece à primeira vista. Nas universidades, em programas da TV, em espaços ongueiros, as rodas de debate a respeito tendem muito rapidamente a colher a unanimidade dos participantes. Terminam por concordar como só uma mudança de mentalidade pode, quem sabe, ajudar a evitar a catástrofe civilizacional.
Nada como a consciência ambiental para dormir tranquilo. São pessoas assim que, sem nenhum pudor em exibir a própria auto-indulgência, teriam se elevado a um estado de consciência superior, e agora se investem da missão de conscientizar os demais de seu papel e sua dívida, diante da iminência do colapso. Até posso entender que alguns ricos padecidos da má consciência de classe resolvam levar uma vida mais globalmente consciente e ecologicamente responsável. Nada mais prafrentex do que economizar água, fazer coleta seletiva, alimento orgânico, ir ao trabalho de bicicleta. Ainda emagrece, né. Me refiro aos críticos do consumismo tão bem  familiarizados com bons restaurantes e hotéis, apartamentos confortáveis, carros pessoais, táxis, notebooks, escovas progressivas e viagens a Paris. Mas eu pessoalmente nunca vi pobre anti-consumo. Desconfio, aliás, que a pauta do consumismo não apele entre aqueles que só podem consumir pouco. Essa pauta nunca me convenceu de não ser cínica. Ou sutilmente reacionária. A mim, soa de extrema perversidade recomendar aos pobres que consumam menos. Que eles tenham de pensar noutro modo de vida, e querer coisas diferentes do que os ricos sempre quiseram, tiveram acesso e usufruíram. Justo agora, quando a maioria da população brasileira pode consumir alguma coisa, um começo de mudança real, dizem-lhe que é pecado.
Hoje, o discurso da austeridade enlaça governos de países em crise e eco-esquerdistas, do Banco Mundial ao SWU, todos por um querer mais comedido. Um topos conservador em tempos de crise global. Dá até a pensar: por que se mobilizar por renda, distribuição da riqueza ou melhores salários, se o bom mesmo é consumir menos? Às elites, obviamente, apetece prescrever o menor consumo porque assim o pobre se contentará com as migalhas de sempre. Menos materialistas, os eco-esquerdistas por sua vez sustentam que o Capital traria dentro de si uma potência maligna. A luta anticapitalista é outro nome para a cruzada dos cidadãos de bem contra a corja no poder. O processo do capital se expandiria não pela força das contradições de seu regime de acumulação, segundo a história e a geografia da luta de classe (Marx); mas por um ânimo inescrupuloso. Por meio da publicidade de massa, o capital mefistofélico atrai as almas simplórias e desinformadas. Seu encanto traga populações inteiras, ávidas pelo ouro de tolos, cativadas por vitrines, ídolos pop, merchãs de novela e mensagens subliminares. A sociedade de consumo arrasta o desejo para o aspecto objetal-alienado, e termina por conspurcar a bondade intrínseca, — seja do espírito humano, da natureza sacrossanta, da divina Gaia a que estamos integrados.
Quanto elitismo. Mas quem sou eu para pretender dirigir o desejo dos outros? que consciência é esta que me levaria a um entendimento mais profundo sobre a condição de existência e resistência de cada um, dos pobres, das raças e minorias?
Para que o capitalismo funcione, é preciso deixar que as pessoas desejem, e incentivá-las a querer mais. Menos a querer determinados objetos do que modos de vida, do que maneiras de se conectar, associar, enredar e maquinar objetos e sujeitos entre si. Um rendimento do desejo. A telenovela não vende somente uma marca de roupa, mas um mundo em que essa marca faz sentido e os sujeitos que consomem esse estilo existem ou podem vir a existir. O comercial de plano de saúde embute uma concepção de família, de bem estar, de segurança. A mulher da propaganda de cerveja precede a própria cerveja. Todo bom marqueteiro sabe como antes se deve criar o consumidor do que o produto a consumir-se. Num mercado diversificado, isto significa forjar mundos muitas vezes contraditórios e inconciliáveis, onde o consumidor é muitos. Como ser ao mesmo tempo a mãe do comercial de margarina e a vadia da cerveja? Só o desejo permite uma coisa dessas.
Portanto, a esquizofrenia capitalista repercute a potência infinita do querer e nesse sentido o capitalismo funciona deixando passar, canalizando os fluxos do desejo, para lhes extrair poder e dinheiro. O segredo do negócio está em animar desejo e consumo, uma operação primeiramente publicitária, mas igualmente política e ética. Reside em desenvolver aparelhos de captura capazes de cristalizar essas conexões e cadeias desejantes entre sujeitos e objetos parciais, moventes, em suma, conformar a atividade subjetiva maquinadora de mundos e formas de vida e entrecruzamentos deles, numa palavra: a subjetividade. Eis aí a grande sabedoria da classe capitalista: não se opor, negar ou moralizar o desejo, mas surfar na produção de subjetividade, na vida mesma, medi-la e vendê-la. O capitalismo não cai no maniqueísmo. Joga com o desejo e trapaceia. E a trapaça pode ser que funcione visto que as pessoas gostam de ser “enganadas” (porque no fundo não o são), jamais porque a carne é fraca. O bom e velho também quero!, que nenhum esquerdismo vai desenganar. E eis o porquê, possivelmente, do fracasso de todos os moralismos vermelhos ou verdes que já sucederam: lutam contra o desejo, uma luta derrotada de saída. Pretendem castrar com sucessivosvocê não pode querer isto ou aquilo, assim ou assado.
Se o socialismo real e o ecologismo catastrofista falharam e continuam falhando, quem sabe é porque buscam exigir das pessoas que desejem menos, que sejam mais ascetas. Opõem uma frágil consciência culpada à força invencível que move a natureza e a cultura em todas as suas dimensões. Ingenuidade ou outro tipo de engodo da classe dominante? O fato é que as pessoas estavam cansadas de prateleiras vazias, da disciplina “revolucionária”, da improdutividade. E não só porque queriam Hollywood, McDonald´s e dançar moonwalk, mas porque queriampoder querer. Queriam explorar o querer mesmo sem a moral puritana impregnada por todo o lugar.
O capitalismo é mesmo paradoxal. Se precisa e incentiva consumo, que é sobretudo uma questão de subjetividade, ele pode sair do controle. A canalização dos fluxos libidinais se desarranja pela própria natureza imprevisível e criativa do desejo. Nunca sabemos por que desertos errará o desejo em nós. Os mundos e formas de vida desbordam dos esquemas em que deveriam funcionar regulados pelo trabalho e a propriedade. Outros usos aparecem, outras maneiras mais libertas de produzir, compartilhar e viver bem. Sempre está pintando uma coisa nova, um jeitinho diferente. Não por acaso, as empresas não cessam de pesquisar esses novos usos, atrás de mercados pouco explorados. A exploração da música não entrou em crise junto com a indústria fonográfica, o modelo de negócio é que mudou.O capitalismo tenta se adaptar como pode.  Isto não significa que, no final das contas, não haja escapatória para as garras do capital, num eterno jogo de gato e rato. Mas sim que a luta se dá por dentro do consumo mesmo, uma disputa de subjetividades antagônicas, luta de classe. É o que Deleuze e Guattari chamam de “máquinas de guerra revolucionária”, isto é, formações subjetivas de produzir e viver que escapam dos aparelhos de captura dos fluxos do desejo.
Isso tudo é muito político. Basta pensar como os pobres conseguem fazer muito com pouco. O máximo do mínimo, o luxo do lixo, a arte da rua. Como são criativos em reinventar os usos e a si mesmos, na relação social, na maneira com que cooperam e superam as dificuldades e constrangimentos. Por isso, a condição do pobre não pode ser colocada em segundo plano nas discussões sobre o consumo, como se não houvesse uma tremenda desigualdade socioambiental onde quer que olhemos. Se ele sempre quer mais, não é porque algo lhe falte e isso o exaspere. Não porque inveje o consumo de madame, a vida-lazer do playboy e da patricinha. Poucas coisas podem ser mais reacionárias do que dizer que o pobre quer ser igual ao rico, que, ao ter acesso à renda e consumo, elitize-se e embraqueça. O pobre quer mais porque pode mais, porque tem direito, e esse direito ele afirma e exerce quando se mobiliza, luta e resiste. Porque pode e quer devorar inclusive o rico, com toda a sua parafernália de consumos impotentes e subjetividades miseráveis, tudo isso que o define como rico em primeiro lugar. Consumir o consumo, como propunham Andy Warhol e Hélio Oiticica, só pode estar nessa libertação do desejo por dentro do consumo, plano de síntese do modo de produção capitalista e lugar em que se manifesta com premência a sua esquizofrenia. Assim o capitalismo radicaliza a sua crise, na luta de classe. Longe da paranoia de rico, a catástrofe passa a ser da classe capitalista, do próprio rico, pondo em xeque as estratégias de manipulação da falta e produção de miséria. Trata-se de acelerar o processo de consumo, intensivamente, do viver enquanto multiplicação real de sujeitos, objetos e seus arranjos produtivos plurívocos, sua floresta louca de possibilidades e travessias.
A genuína invectiva revolucionária é consumir mais, sempre mais, muito mais.

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11 de julho de 2012

"baixaria sobre o aquecimento global".

O artigo foi publicado no jornal Folha de S. Paulo do dia 25/09/2008  na seção Tendências e Debates

* no mesmo dia em que o PNMC foi divulgado para consulta pública*


Baixaria sobre o aquecimento global.
A esperança de continuidade do progresso material da espécie humana dependerá de utilizações mais diretas da energia solar

Por José Eli da Veiga e Petterson Vale
 
Basta um pouco de conhecimento histórico para saber que a evolução cultural da humanidade passou por três saltos decisivos, com o domínio do fogo, da agricultura e da máquina a vapor. E não é preciso muito esforço imaginativo para prever que a quarta tarefa de Prometeu será a descoberta de novas fontes de energia que não sejam fósseis. Com ou sem aquecimento global, a esperança de continuidade do progresso material da espécie humana dependerá de utilizações mais diretas da energia solar.

Também se sabe que a chamada revolução agrícola do Neolítico não esperou que terminassem as fontes de caça e de coleta e que o aproveitamento do carvão mineral foi bem anterior a um possível desaparecimento da lenha. Aguardar comodamente a intensificação do processo de esgotamento das reservas de carvão, petróleo e gás só servirá para tornar ainda mais freqüentes e trágicos os conflitos bélicos motivados pelas crescentes desigualdades de acesso a tais recursos.

Assim, longe de ser opção apenas econômica, é eminentemente ética a necessidade de drástico direcionamento das atividades de ciência, tecnologia e inovação (CT&I) para o que tem sido chamado de "energias alternativas". E pura irresponsabilidade etiquetar de desperdício o atual gasto mundial nessa área. Ao contrário, os baixíssimos investimentos em CT&I para a superação da era dos fósseis só atestam o atraso e a miopia das elites dirigentes.

Mesmo os mais recalcitrantes "céticos", que insistem em negar o aquecimento global ou que ele seja provocado por atividades humanas, deveriam apoiar investimentos na busca de novas fontes energéticas. Por isso, chega a ser escandalosa a desonestidade intelectual dos que repetem como papagaios que já teriam sido gastos US$ 50 bilhões em tentativas de provar a influência climática das emissões antrópicas de CO2. Por enquanto, a despesa total do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, na siga em inglês) só atingiu uma minúscula fração desse montante: US$ 34,2 milhões, de 2001 a 2007.

Quem criou a lenda dos US$ 50 bilhões foi o paleontólogo australiano Robert M. Carter, porque é contra os esforços em CT&I focados na procura de usos mais diretos da energia solar. Prefere que se continue a esbanjar recursos fósseis e não lamenta os US$ 3 trilhões já queimados na Guerra do Iraque.

Na contramão desse tipo de baixaria, está despontando aquilo que o jornalista Thomas L. Friedman havia apelidado de "green new deal" e agora chama de "revolução verde". Elétrons abundantes, baratos, limpos e confiáveis poderão solucionar cinco dos principais problemas contemporâneos: oferta e demanda de energia e de recursos naturais, ditaduras petroleiras, mudança climática, perda de biodiversidade e pobreza energética.

As nações que liderarem tal mudança serão detentoras da maior fonte de valor agregado deste século. E, nessa corrida, terão mais sucesso as que anteciparem políticas públicas e instituições capazes de induzir a nova onda das energias limpas. O que exigirá a combinação de pelo menos quatro instrumentos: precificação do carbono por impostos e contingenciamentos, subvenções às inovações, regulação da eficiência energética e educação para a mudança de hábitos.

É claro que a economia global também poderia ser impulsionada por uma nova onda bélico-tecnológica, como parecem preferir alguns dos detratores do IPCC. Mas essa é uma ética tão reacionária quanto a dos que teriam preferido continuar no Neolítico até que se manifestasse a escassez de pedras.

JOSÉ ELI DA VEIGA , 60, professor titular de economia da USP, e PETTERSON MOLINA VALE , 25, mestrando em desenvolvimento econômico na Unicamp, são co-autores do capítulo sobre economia e política do livro "Aquecimento Global: Frias Contendas Científicas".



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uma loja para vender as coisas das quais você enjoou.

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"Enjoou daquela blusa, daquele sapato, daqueles óculos, daquela bolsa, daquele casaco? O 'Enjoei' é o lugar pra vc passar adiante aquilo que já nao usa mais e, de quebra, ainda fazer uma graninha. Cada produto vem identificado com o nome do atual proprietário - no formato 'Enjoo de tal pessoa' - e também com uma breve descriçao que às vezes revela o motivo do enjoo ;-)"  [bluebus]



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links.

as postagens estão gerando links em algumas palavras, automaticamente. não linkei e nem curto isso, mas ainda não resolvi o problema - se é que se trata de um problema: vai que é o novo policy do blogspot e nem tô sabendo. MUITO chato. desculpa aê. se alguém souber como evitar isso, me diz, por favor. obrigada.

this blogspot is generating some hiperlinks at some key words. this is not my choice. SUCKS.  I dislike it. new blogspot policy? well, if you have any idea about how to stop it, please, help me. thank you


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sabia que o logo 'reciclar' foi criado há 30 anos por um estudante?

Há 30 anos atrás, um jovem Gary Anderson participou de um concurso promovido por uma empresa para criar um design que ajudasse a conscientizar sobre a importância da reciclagem. Na época, Gary foi o vencedor do concurso com a marca 'reciclar' que conhecemos hoje em dia, com as setinhas cíclicas, em um logo reconhecido internacionalmente tanto quanto grandes marcas como a Coca-cola e a Nike - "Odeio admitir isso hoje, mas levei um ou dois dias para produzir o logo. Eu tive a ideia depois de fazer uma apresentaçao sobre o ciclo de reciclagem da água", explica Gary, que foi premiado com meros USD 2,500 pela sua criaçao. Gary acabou nao se tornando um designer, mas sim um arquiteto - uma entrevista com ele pode ser conferida no Financial Times. A dica é do Presurfer


Fonte:  Editores-do-Blue-Bus 11/07 Jacqueline Lafloufa

FT, Interview Gary Anderson

First Person: Gary Anderson


‘I designed the recycling symbol’

I studied engineering at the University of Southern California at a time when there was a lot of emphasis in the US on training young people to be engineers. It was in the years after Sputnik and the philosophy was that America was in danger of falling behind the Russians in the technical arena. That said, I eventually switched to architecture. I just couldn’t get a grasp on electronics. Architecture was more tangible.
I got my bachelor’s degree in 1971 and stayed on to do a master’s. It was around that time that I saw a poster advertising a design competition being run by the Container Corporation of America. The idea was to create a symbol to represent recycled paper – one of my college requirements had been a graphic design course so I thought I’d give it a go.
It didn’t take me long to come up with my design: a day or two. I almost hate to admit that now. But I’d already done a presentation on recycling waste water and I’d come up with a graphic that described the flow of water: from reservoirs through to consumption, so I already had arrows and arcs and angles in my mind.
The problem with my earlier design was that it seemed flat, two-dimensional. When I sat down to enter the competition, I thought back to a field trip in elementary school to a newspaper office where we’d seen how paper was fed over rollers as it was printed. I drew on that image – the three arrows in my final sketch look like strips of folded-over paper. I drew them in pencil, and then traced over everything in black ink. These days, with computer graphics packages, it’s rare that designs are quite as stark.
I think I found out I won the competition in a letter. Was I excited? Well, yes of course – but not that excited. I guess at that point in life I had an inflated sense of self-importance. It just seemed like, of course I would win! There was a monetary prize, though for the life of me I can’t remember how much it was... about $2,000?
When I finished my studies, I decided I wanted to go into urban planning and I moved to LA. It seems funny, but I really played down the fact that I’d won this competition. I was afraid it would make me look like a graphics guy, rather than an urban designer. I didn’t even mention it on my résumé. Also, the symbol itself languished for a while. I remember seeing it once on a bank statement, but then it disappeared.
Six or seven years after graduating, I was living in Saudi Arabia. I’d got bored and responded on a lark to a teaching job I saw advertised in The New York Times. One summer, I flew to Amsterdam for a holiday. I’ll never forget: when I walked off the plane, I saw my symbol. It was on a big, igloo-shaped recycling bin. And it was bigger than a beach ball! I was really struck. I hadn’t thought about that symbol for years and here it was hitting me in the face.
That was a long time ago. Since then, I’ve received a PhD and worked for a few corporate firms. At the moment, I run the Baltimore branch of a small company that does work for the Department of Defense, which is odd because I was very anti-military when I was young.
With respect to the environmental movement, I’ll admit that most of my career has been more focused on paying the bills. But I got my green design certification; so while I’m not the world’s expert, I do my part. It can get frustrating though, in my work, to come up against environmental regulations. Don’t get me wrong; it’s good that we have them. But as my father used to say, there’s more than one way to skin a cat. When things get too codified, it stifles innovation.
I feel much closer to the recycling symbol now than I used to. Maybe this design is a bigger part of my life’s contribution than I had thought but still, I’d hate to think that my life’s work is defined by it. There’s more to me than the recycling symbol.

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“do ambientalismo catastrofista à ecologia dos desejos”

Talvez o caminho não seja consumir menos, mas de um jeito diferente. O socioambientalismo fracassará, se sua mensagem for: “desejem menos“.
Por João Telésforo Medeiros Filho, no Brasil e Desenvolvimento

(Título original: “Do ambientalismo catastrofista à ecologia dos desejos”)

O socialismo só pode chegar de bicicleta”, disse certa vez o socialista chileno José Antonio Viera Gallo. A realização do socialismo exige, hoje, que rompamos com a ideologia produtivista da sociedade industrial, simbolizada pelo automóvel individual motorizado. Seria ambientalmente viável garantir “carro para todos”? Isto é, faz sentido que o sonho socialista seja promover a inclusão de todos na sociedade de consumo tal como existe hoje? Ainda que quiséssemos isso, é provável que os ecossistemas deste nosso planeta não suportem 7 bilhões de pessoas consumindo bens materiais no nível, por exemplo, da classe média alta brasileira.
Construir uma sociedade justa e que garanta bem-estar a todos, então, exige de nós muito mais do que o desenvolvimentismo de esquerda tenta nos oferecer – isto é, crescimento econômico acompanhado de distribuição de renda. É preciso repensar e transformar as bases do nosso modo de vida, dos meios de transporte e fontes energéticas em que nos baseamos, dos bens que avidamente consumimos.
Talvez o caminho não seja consumir menos, mas de um jeito diferente; canalizar nossos desejos de outras maneiras, para outros e novos objetos. O socioambientalismo fracassará, se sua mensagem às pessoas for: “desejem menos“. Esse discurso ambiental catastrofista, que exerce o papel de superego da sociedade de consumo em massa, dificilmente poderá ser o parteiro de modos de vida diferentes. O máximo que conseguirá é que as pessoas passem a consumir com maior culpa – aliás, quem sabe não consumam ainda mais, em busca dos prazeres inconscientes de transgredir um dever, ou como mecanismo de fuga à ansiedade e depressão diante do fim-do-mundo-que-se-avizinha e da sua culpa por ele… Ou, então, talvez algumas delas limitem-se a mudar as suas condutas individuais, reproduzindo o velho mecanismo descrito pelo psicanalista Contardo Calligaris: “Além de dar sentido ao meu mundo, a culpa me oferece a ilusão de agir de maneira eficaz: como o flagelante, posso esperar que minha renúncia ao prazer suspenda a punição. De repente, doenças e catástrofes talvez parem diante de minha conduta meritória. Em vez (ou além) de procurar as condições de prevenir um terremoto ou de debelar um câncer resistente, rezarei noite e dia e me fustigarei em penitência. Se, de qualquer forma, o terremoto vier ou o câncer triunfar, será porque não me açoitei o suficiente.” É como aquele pessoal que para de comer carne e acha que, assim, está “fazendo sua parte” contra o aquecimento global… Quanto maior o sacrifício, maior a recompensa, não é?
Claro que precisamos mudar padrões de consumo, e consumir menos carros (e talvez menos carne, não entrarei nesse mérito aqui), por exemplo, é parte importante disso. Porém, não será com pesadelos sobre o fim do mundo e discursos ascetas contra o consumo que seduziremos amplas parcelas da sociedade (a começar de nós mesmos) a desligarem os motores e pedalarem num rumo sustentável. Precisamos de sonhos, imaginários e desejos afirmativos, que não façam apologia do sacrifício individual em nome do combate ao mal coletivo, mas sim do engajamento (inter)pessoal em novas formas de convivência social, de relacionamento com os outros e com as coisas, que tragam mais oportunidades para uma vida mais plena, intensa, autêntica, singular – e, nesse sentido, feliz.
Não adianta dizer às pessoas: “o capitalismo é a felicidade, mas isso não é possível para todos, então sejam menos felizes, controlem seus impulsos consumistas, para ao menos sobreviverem”. É preciso diagnosticar como o capitalismo nos isola, nos põe uns contra os outros, destrói experiências de compartilhamento, esforça-se para homogeneizar e burocratizar tudo e todos, submetendo-nos à sua lógica implacável – para depois vender “diferenças” pasteurizadas e objetivadas sob a forma de mercadorias. Ou seja, o capitalismo é a destruição das culturas indígenas e do Cerrado nativo, no Distrito Federal, para que em seu lugar se construa um bairro “ecológico” de alta classe, o “Setor Noroeste”; é transformar a resistência em produto de boutique; é parasitar a alegria do jogo, do futebol, e usar uma Copa do Mundo como pretexto para despejar milhares de pessoas de suas casas, e bilhões de recursos públicos nos cofres de poucas empresas privadas… Essa não corresponde exatamente à minha imagem do que é felicidade…
Não basta, no entanto, ser “anticapitalista”, nem anti catástrofe ambiental e humana, nem nenhuma outra forma melancólica que se esgota no “anti”. “É preciso”, como afirma o Manifesto da Universidade Nômade, “resistir na alegria, algo que o poder dominador da melancolia é incapaz de roubar. Quando o sujeito deixa de ser um mero consumidor-passivo para produzir ecologias. (…) É preciso criar desvios para uma vida Mais vida: sobrevida, supervida, overvida. Pausa para sentir parte do acontecimento, que é a vida”.
O sonho de comprar um carro não é o de ter um agregado de ligas metálicas e de borracha na sua garagem. É o desejo de mobilidade, por um lado; e, por outro, o de consumir um bem simbólico que agrega status, de diferenciar-se socialmente com base na capacidade de possuir coisas. A alternativa que precisamos construir à ideologia individualista do consumo e da competição deve oferecer a resposta a esse desejo material de locomover-se (assim como ao de educar-se, comunicar-se, etc), mas, mais do que isso, deve anunciar e compartilhar a alegria do comum: a alegria de que a minha diferença não implique inferioridade, menor diferença (menor poder de consumo, de possuir coisas, no capitalismo) do outro, mas potencialize ainda mais as suas diferenças; que essas diferenças se encontrem, se vejam, se multipliquem, entrem em diálogo e em conflito no espaço público. A alegria dos encontros, em oposição ao mundo higienizado e homogeneizado do capitalismo, cujo símbolo mais eloquente talvez seja, mais do que o carro, com seus vidros levantados contra a rua, o condomínio fechado, que já leva o ensimesmamento e aversão à diferença no próprio nome.
O que queremos é uma vida com mais prazer, e não com menos; ou melhor, com mais prazeres, para além da uniformidade dos shoppings centers. Prazeres compartilhados, porque compartilhar alegria e prazer é a melhor forma de multiplicá-los. “Happiness is only real when shared”, como disse Christopher McCandless…
É preciso caminhar ou pedalar, alegremente, a dez por hora, e fazer disso não um gesto indvidual, mas de reconquista coletiva do espaço público, compartilhado, que nos foi usurpado. Canalizar desejos para novos objetos exige de nós que produzamos (isto é, sejamos) novos sujeitos, como de certa forma lembra o Bruno Cava. Construir essas novas subjetividades só pode ser obra de uma práxis transformadora, de singularidades que se constróem juntas, coletivos que proliferam “na rua, no meio do redemoinho”…

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