11 de março de 2011

banheiros secos geram estigma.



Os banheiros secos não convencem os moradores de assentamentos irregulares da capital do Malawi, apesar de não exalarem odor, não serem caros e produzirem adubo. Dois terços dos dois milhões habitantes desse país residem em bairros superpovoados e sem saneamento. Dezenas de pessoas dividem um único banheiro nos municípios de Mtsiriza, Mgona ou Senti.
“A situação é terrível”, disse Alex Makande, que vive em um complexo habitacional de Mgona com mais 83 pessoas. “Pela manhã é pior. As pessoas fazem fila para usar o banheiro e, às vezes, temos que usar banheiros de outros grupos de moradias vizinhas que não estão tão cheios”, disse Alex, que trabalha como guarda noturno em uma área rica de Lilongwe. Poucas áreas têm água encanada.
Um complexo habitacional nesses municípios pobres costuma ter oito casas e um único banheiro, disse Monalissa Nkhonjera, da organização humanitária WaterAid. “Promovemos a construção de banheiros com tampa para o poço e teto de lata ou palha. As paredes são de tijolo”, explicou Monalissa, cuja organização trabalha em assentamentos irregulares de Lilongwe.
Os banheiros ecológicos possuem dois buracos. Usa-se um de cada vez e quando alguém o utiliza joga cinzas para minimizar o cheiro e acelerar a decomposição da matéria. Depois que um buraco está cheio, usa-se o outro, e espera-se que o conteúdo do primeiro se transforme em adubo.
“Os banheiros com caixa de água são mais convenientes”, disse Manesi Phiri, de Senti, nos arredores de Lilongwe. “Só o que se tem de fazer após usá-lo é dar a descarga. As latrinas com poços são degradantes”, acrescentou. São uma marca de pobreza, enquanto os que possuem caixa de água dão status. Além disso, na cidade não se usa muito o fertilizante produzido nos banheiros ecológicos, destacou.
“Não temos jardins nem plantamos e não podemos vender adubo na cidade. As pessoas usam adubo químico pela repugnância que têm em usar matéria fecal”, disse Manesi, embora reconheça que não tem cheiro e se parece com o outro. No entanto, “continuaremos usando os que temos à disposição, que são melhores do que os banheiros convencionais”, afirmou Alex, embora também prefira os que têm caixa de água.
As pessoas mais pobres não têm muitas opções. Mas é provável que todo mundo acabe adotando banheiros ecológicos, devido à irregularidade no fornecimento de água nas cidades, não apenas no Malawi, mas em toda a região da África austral. Uma caixa de descarga despeja entre seis e 11 litros por vez. As 640 mil pessoas que têm uma em sua casa jogam fora centenas de milhões de litros pelo cano que vão parar na rede de saneamento. E é preciso tratar o líquido antes de devolvê-lo aos cursos de água.
Richard Gulumba, morador da área 43, um dos bairros mais ricos da capital, instalou um banheiro ecológico em seu jardim devido aos frequentes cortes de água. “Mas, para nós, é difícil usar, pois recorda a pobreza na aldeia onde me criei e isso não me agrada. Lembro de experiências ruins. Não gosto de usar a latrina agora que posso pagar um banheiro com caixa de água”, acrescentou.
Apesar dos preconceitos contra os banheiros químicos, há pessoas ricas, do México ao Canadá, da Suécia à Austrália, que usam banheiro sem água. A empresa sul-africana Ecosan fabrica um que usa a ação de abrir e fechar a tampa para mover uma hélice que deixa passar a matéria para uma câmara onde se transforma em adubo, sem mais nada. A Nature Loo, da Austrália, oferece um sistema com câmara de adubo interligados e um ventilador que assegura uma adequada oxigenação para acelerar a decomposição.
As latrinas que produzem fertilizantes e evitam a contaminação da água subterrânea são a melhor opção para os residentes de assentamentos irregulares e comunidades rurais, disse Monalissa. “Essas áreas não têm água corrente, e colocar banheiro com caixa de descarga não seria realista”, acrescentou.
(IPS/Envolverde)


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