3 de junho de 2011

SUPER DEBATE. Dia 5 de junho. Dia mundial dos "humanos".



Quando a questão ambiental não precisar de dia, nem de semana, daí, sim é que saberemos que é importante, de verdade, esse debate. Certo? Mais ou menos.

O Dia da Mulher e do Trabalho, por exemplo, continuam sendo paradas fundamentais para que se reflita sobre as perguntas de injustiça social que ainda continuam sem respostas ou cujas respostas são tão cínicas e paliativas que nem conta. Tanto o Dia da Mulher quanto o Dia do Trabalho são marcos que surgiram em meio a protestos, aos movimentos sociais, remontam a mudanças fundamentais na história dos direitos humanos. Também são paradas para enxergar o que deu certo, e respirar fundo para seguir adiante. Utopia, por mais que o mercado insista que não, é o que move o mundo.

Quando a Organização das Nações Unidas, no dia 5 de junho de 1972, instituiu a Dia Mundial do Meio Ambiente, também respondeu a demandas do movimento ambientalista. Não que o movimento ambientalista, que começava a esverdear mais forte naquela década, sobretudo nos Estados Unidos, precisasse de uma Data para provar sua importância. O que é importante - e para quem - é sempre alvo de muita polêmica. Há muito debate importante por aí que passa longe do calendário. O que acontece é que Datas, sobretudo propostas pela ONU, são um índice importante do que é considerado importante por aqueles que classificam o que é importante no mundo, ainda que nem sempre tenham razão ou sua escala não seja reconhecida por todos.

O dia 5 de junho tem a memória de um reconhecimento da causa ambiental como questão importante - muitas vezes, é só no discurso, mas é reconhecimento ainda assim. Foi a partir desse compromisso público internacional, mesmo que nem sempre honrado, que aconteceu a 1a Conferência Mundial do Meio Ambiente, em Estocolmo na Suécia, e que foi criado o Pnuma, Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

Àquela época, o tom era de proteção, sob uma concepção de natureza intocada, como se a questão humana não fizesse parte da natureza. Raymond Williams, num texto publicado no final dos anos 70, disse algo assim: 'Um toque de natureza pode deixar o mundo todo mais gentil, mas geralmente quando nós dissemos natureza, nós incluimos nós mesmos?'

A Conferência da Estocolmo levou à Eco 92 ou Rio 92, quando, diferente de Estocolmo, Chefes de Estado participaram. A importância do tema, agora, era governamental também. Nesse mesmo ano, foi criado o Ministério do Meio Ambiente. Com a atenção dos governos, e portanto, dos mercados que precisam deles para ganhar dinheiro, a noção de 'proteção', marcante do movimento ambientalista, perdeu centralidade no debate, diante da afluência da noção de 'desenvolvimento sustentável'.

'Desenvolvimento sustentável' é uma expressão que, a cada dia, se torna mais e mais corriqueira, tanto na mídia, quanto nas políticas ambientais. Não é uma coincidência que a noção de 'desenvolvimento sustentável' tenha sido cunhada, com letras mais legíveis, na década de 90. Maria Eduarda da Mota Rocha lembra o quanto a 'onda verde' colou na publicidade brasileira, levando o tema ambiental para campanhas da química Hoescht e dos óleos GTX-Turbo, por exemplo. Foi aí que o O Boticário criou a sua Fundação e a Faber Castell colocou no mercado o lápis de madeira reflorestada.

Tempos de economia eco neoliberal, baby.

Uma natureza cuidada, protegida, preservada é beeeem diferente de uma natureza que se consome conscientemente, que se explora com responsabilidade - seja ambiental ou social e, aliás, nunca entendi a diferença. Portanto, a noção de 'desenvolvimento sustentável' surge como um apaziguador das tensões entre progresso, desenvolvimento e natureza, recursos naturais, equilíbrio ecológico, meio ambiente. Se os dejetos da fábrica, antes, precisava ser banidos, agora, poderiam ser uma oportunidade para compensar os danos causados ao meio natural e até mesmo evitá-los. O greenwash, a mentira do marketing verde, também surge nesse contexto, em que parecer verde é o que há.

Também entra em cena uma perspectiva beeem diferente de planeta. De um mundo que é de todos, de um só planeta para todos os humanos, o mundo passa a ser problematizado, com mais ênfase no movimento ambientalista, como um lugar de gritantes e desesperadoras diferenças, tônica do debate sobre justiça ambiental.

Os mais ricos e mais desenvolvidos, mesmo que tenham detonado a sua 'natureza' por causa do desenvolvimento e das matrizes energéticas utilizadas (a Inglaterra da Revolução Industrial é um exemplo didático disso), têm mais condições de se preparar para enfrentar o que seriam conseqüências dos males que ajudaram mais do que ninguém a causar. Os mais pobres e os menos desenvolvidos, mesmo que tenham a sua parcela de responsabilidade na crise ambiental (no Brasil, a principal causa das emissões são os desmatamentos), tendem a ser as maiores vítimas por serem os que menos têm condições de investir não só em mitigação, mas também em prevenção ou educação ambiental.

Em 2007, o Quarto Relatório Periódico do IPCC confirma algo que já estava dito, de certa forma, que a responsabilidade pela mudança climática é humana. Essa hipótese fala de uma natureza que inclui o ser humano. Ok, mas de que 'ser humano' estamos falando? Mora onde, tem que padrão de vida, fez o que para ajudar a provocar esse estado de coisas? Dá para colocar na mesma categoria de 'causa antropogênica da mudança climática' norte-americanos, brasileiros, chineses, haitianos...? No quebra-quebra de 2008, com a crise global do mercado de capitais, que ajudou a fortalecer a perspectiva ambientalista, também entrou em debate essa questão: crise mundial feita por quem? e paga por quem?

O Dia do Meio Ambiente pode ser equiparado em importância ao Dia da Mulher e do Trabalho. Sua importância também está justamente em nos lembrar o quanto o que vem em nossa mente quando falamos ambiente não é algo fora de nós e, portanto, exige que seja problematizado na sua complexidade, em torno da suas contradições, longe do jogo do bem contra o mal. "Esses humanos" que parecem ser a causa do aquecimento global também somos nós, e todos são o "meio ambiente".

Ainda que o meio natural, seus animais, pedras, plantas, cheiros, cores, frutos, tenham ciclos independentes dos humanos e componham um cenário no qual os humanos sejam mais um - ainda que ajam como se fossem os únicos na face da Terra - é a partir do olhar humano, do sentido humano atribuído a tudo isso, que o mundo existe. O inclassificável, o incompreensível, o incontrolável, o inominável também é visto assim a partir do gesto humano.

O natural é histórico, social. Nosso mundo é plural, nosso mundo são mundos sociais. O dia 5 de junho é o Dia Mundial dos Humanos, assim como o Dia da Mulher é refletir sobre os homens, e o Dia do Trabalho é o Dia de refletir sobre aqueles que, para o mercado, 'não servem'. Quando chegar o 19 de novembro, dia mundial do homem, também será dia de pensar no "meio ambiente".





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