7 de junho de 2011

Família não consome industrializados ou alimentos com conservantes.

ANA TEREZA CLEMENTE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
5/ 6/ 2011


Omar tem quatro anos. Ele já se interessa pela definição das cores da reciclagem de lixo, embora, perguntado à queima-roupa, titubeie, para depois sair desfiando qual delas serve para o quê. Embaralha os significados: diz que a vermelha "é de garrafa", mas sobre a cor verde é a única resposta que dá com certeza: "Não sei".

Omar é o filho mais velho da família de Nagib Nassif Filho, 36, publicitário, e Kerima Helu Nassif, 37, arquiteta, e irmão de Samir, dois anos.

Na escola, e com os pais, Omar aprendeu a identificar o símbolo da reciclagem, e quando viu um adesivo em formato de coração em um carro perguntou à mãe: "É amor reciclado?".

Kerima acha que o filho faz parte de uma geração que já tem, naturalmente, a consciência de que é melhor poupar energia e diminuir o consumo de água, por exemplo. "Omar diz: 'Olha, a luz está acesa, vamos apagar', quando não há ninguém naquele lugar da casa." Os irmãos tomam banho juntos, e aproveitam esse momento para fazer xixi --ato que diminui a quantidade de descargas.

A família Nassif, aqui retratada para exemplificar o consumo de uma família de classe média por uma semana, poderia ser considerada, à primeira vista, ecologicamente correta: não toma refrigerante, guarda em garrafa PET o óleo já usado para descartar em local certo, pede para embalar os produtos comprados no supermercado em caixas de papelão, pesquisa endereços para fazer feira sem agrotóxicos.


PAPEL DE LIXO

Em casa, porém, Kerima admite que não recicla papel nem lixo, porque no prédio onde mora, em Higienópolis, não há coleta seletiva. "É um erro, eu sei, mas é complicado guardar lixo e levar para algum lugar depois", diz. "Nunca vi um caminhão de coleta seletiva por aqui", confirma Nagib, "e sei que estou sendo preguiçoso de não ir até o supermercado e levar o lixo lá."

Por ser publicitário, Nagib se acha mais consumista que a mulher, e a justificativa é que precisa "estar antenado" com o mercado e que tem "encanto por embalagens". Por ficar menos tempo com as crianças, ele quer agradar, e compra mais de uma dezena de bichinhos por vez --todos embalados em saquinhos plásticos--; Kerima se diz mais controlada na hora de consumir.

Outro ponto de discordância entre eles é na hora do banho. Nagib fica no chuveiro entre dez e 15 minutos, Kerima gosta de banhos rápidos, principalmente em dias frios. "Penso muito no banho, é o momento em que tenho ideias", diz ele.

No ano passado, Nagib fez uma campanha para o Instituto Akatu, de consumo consciente, sobre o uso de sacos plásticos e, a partir daí diz que passou a refletir mais sobre o uso dessa embalagem. "É fato, saco plástico voa e entope bueiros", diz.

"O ritmo de vida leva você a não ter raciocínio ambiental, mas tento me policiar e passar bons exemplos aos meus filhos."

O casal faz críticas à pouca infraestrutura que existe na cidade, como falta de lixeiras nas ruas, e nos supermercados, já que frutas e verduras têm de ser pesados isoladamente em sacos plásticos, e carne e frango vêm embalados em bandejas de isopor e papel-filme. 

Kerima ainda chama a atenção para a quantidade de papel emitida no ato da compra: "Um comprovante para o consumidor, um para o supermercado, outro para o cartão de crédito. Para quê?".

Por questões econômicas, a família tem um carro só. Cabe a Nagib andar de bicicleta: ele vai e volta de Higienópólis até a Vila Madalena, onde trabalha, pedalando.
"Eu me exercito, não pego trânsito e ainda colaboro para diminuir a poluição." Nagib acredita que ter uma vida mais comprometida com o futuro do planeta "está nas pequenas coisas", e que se cada um pensar "eu sou mais um", a onda do consumo consciente poderá crescer.






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