24 de novembro de 2011

o problema do lixo: nem todo mundo 'compra' a causa. muita gente quer apenas 'lucrar' com ela.

#phdfeelings

- o senhor foi pegar um lixo à noite por que tava fora da lixeira?

- [ ex-gari] já peguei muitas vezes, quando ficava contêiner assim, que eles colocavam muito lixo depois que o caminhão passava, nós ia lá, chegava lá e recolhia pra não deixar aquele lixo lá... teve uma época aí que a limpeza da cidade chegou a ser de primeiro mundo. 

- e o que mudou? o senhor acha que caiu de qualidade?

- [ demorou para responder]... por causa da terceirização.

- o senhor acha que as empresas...

- [ me interrompendo, elevando um pouco a voz]  as empresas só se preocupam com os contratos milionários. teve um contrato aí que o que saiu do cofre do governo dava pra comprar caminhões, fazer concurso e equipamento para 10 anos.  isso só em um contrato que foi feito. 

[ ele ficou em silêncio depois, me olhando no olho como quem diz: 
- dá pra acreditar nisso?]

[ fiquei quieta também, nem sei de que contrato ele tá falando, não sei se ele tem razão. mas não posso tirar a importância desse modo que ele tem de ver as coisas. ainda mais por que ele 'mexe o lixo', como me disse, há mais de vinte anos, a maior parte desses anos trabalhando como gari, até apoiar o governo na coordenação de garis e caminhões. ou seja, ele conhece bem como as coisas funcionam no dia-a-dia da coleta do lixo e mais recentemente está conhecendo como as coisas funcionam na administração oficial dessa coleta]


[é claro que nem toda empresa terceirizada é assim. da mesma forma que nem todo gari é tão dedicado. seria até mais fácil se fosse possível separar o mundo em bandidos e mocinhos. só que tudo é bem mais complexo: somos bandidos e mocinhos e a nossa sociedade também é as duas coisas tudo ao menos tempo agora. tem conflito, tem contradição, tem humanidade. ]


[mas o que ele diz, a gente sabe, faz sentido: uma coisa é, uma vez que a gente vive no capitalismo, oferecer um trabalho útil, bom e lucrar com isso; outra coisa é não fazer o que o está no contrato, superfaturar, e ainda comprometer o resultado do serviço oferecido à população (que afeta o mundo todo), que é direito constitucional.]


[seria ótimo ter certeza que esse senhor exagerou na sua crítica... mas, mesmo sem dados 'científicos' para concordar com ele, fiquei com a sensação de que ele sabe do que tá falando...]








* importante: localidades, nomes de pessoas, instituições, informações que identificam quando, com quem e onde aconteceu esse diálogo são de interesse apenas da pesquisa. não compartilho. *

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