27 de fevereiro de 2011

SUPER DEBATE. Ciclistas na pista.

Ciclistas na pista.

Vivemos num mundo em que pessoas gostam de carro. Já disseram que todo brasileiro é apaixonado por carros. Foram 64.817 milhões registrados até o final de 2010, crescimento de 199% em dez anos (Denatran). Mas o afeto não explica sozinho esses números.

Vivemos num mundo onde carros podem gostar de pessoas?  

Uma publicidade recente disse que sim - ao menos entre os consumidores da marca anunciada. Outra campanha mostra carros e animais selvagens, demarcando territórios na “natureza”: o lançamento seria o mais “selvagem” de todos.

Os pesquisadores ingleses Kingsely Dennis e John Urry falam de uma sociedade “after the car”. Ainda que não seja possível voltar no tempo e fazer com que o conforto e a conveniência proporcionados pelo carro desapareçam, dizem eles, o carro como um completo sistema já teria sido ultrapassado.

Significativamente, um tigre da indústria do carro entrou em extinção no país: a rede de postos Esso. Desde 1912 na cadeia do mercado nacional, os postos Esso testemunharam - e protagonizaram – a industrialização no Brasil.

Ativistas têm pedalado cada vez mais forte no argumento de que é preciso 
encontrar Outras Vias para a mobilidade urbana em São Paulo.

A Bicicletada DF dá carona para o debate mundial na capital do país 
(aliás, muita gente tenta andar a pé em Brasília).

Entre as reinvindicações: ter direito a uma cidade sem um olhar desconfiado no retrovisor. Sem vidros travados de medo. Sem doenças causadas pela má qualidade do arSem “monstroristas”.

Sistema de Indicadores de Percepção Social do Ipea (jan 2011) mostra o quanto os congestionamentos repercutem negativamente no cotidiano da população brasileira, que fica presa no trânsito mais de uma vez por dia.

Assim, o grave acontecimento com os cicloativistas do Massa Crítica na última sexta-feira em Porto Alegre, para além do que ocorra nos próximos dias, poderia ser lido como gesto de desespero de um modelo de sociedade que estaria pifando.

Ironicamente, na pesquisa de percepção do Ipea, 42,4% da região Sul alegaram que sempre há sentimento de respeito a pedrestes e ciclistas. 17% disseram que esse sentimento existe na maioria das vezes.

Na sociedade “depois do carro”, da qual falam Dennis e Urry, vários futuros seriam possíveis. Com a elevação da temperatura na superfície da Terra, que acelerou os termômetros no  século passado – o século do automóvel –, um controle drástico das emissões de gases de efeito estufa, entre outras medidas, deve fazer parte desses futuros possíveis.

De acordo com o Intergovernmental Panel on Climate Change, IPCC, a mudança climática é inequívoca, já estaria em curso, sua causa seria humana e a concentração de dióxido de carbono (CO2), um dos seus principais fatores. No começo deste ano, o Ministério do Meio Ambiente apresentou o 1o Inventário Nacional de emissões atmosféricas por veículos automotores rodoviários

Os vacilantes céticos do clima, climagate, glaciergate e afins geram questionamentos sobre a  hipótese da mudança climática e suas implicações.  Como iremos viver? Incerteza. Na dúvida, é possível que os ciclistas estejam na pista dos novos tempos.  Quem estiver ao volante e observar seus movimentos, tem que observar o Código de Trânsito Brasileiro: o artigo 201 define que a distância lateral de 1 metro e 50 centímetros deve ser mantida ao passar ou ultrapassar bicicleta.

Josi Paz, gaúcha, é doutoranda em Sociologia pela UnB e pesquisa o tema sociedade de consumidores e mudança climática. @josipaz

* Este post é para as vítimas do #nãofoiacidente em Porto Alegre. 
* Obrigada ao blog Outras Vias  do jornalista Daniel Santini
onde aprendo sobre o tema todos os dias.


 Licença Creative Commons  #supercarrinho  @supercarrinho

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