12 de janeiro de 2012

ninguém é otário, mas manter o sério debate ambiental nesse tom talvez seja.



que a sacola do pão de açúcar vem do vietnã, já sabia: tá escrito na própria bolsa. até pq é lei informar isso, a empresa não omitiu a origem. mas esse vídeo só vi agora. bobo demais. o vídeo é bobo pq parte de um argumento falso: faz da origem do produto fora do brasil um problema em si mesmo. trabalho escravo não tem só um endereço. e discutir pegada ecológica exige outro debate mais complexo, sobre a cadeia produtiva. se a gente vai por aí, o bonequinho playmobil que aparece nesse vídeo pode ser tão ou mais 'insustentável' que a bolsa cuja origem o vídeo diz 'denunciar'. sem contar a origem das peças do computador para editar o vídeo etc... mesmo se a ecobag for costurada no bairro de quem fez esse vídeo isso não vai garantir que a sua produção seja ecologicamente correta. o sério debate ecológico é beeem mais complexo que esse discurso fácil de mocinhos e bandidos que muita gente green de boa vontade embarca. nenhuma empresa tem salvo conduto pra salvar o mundo. mas sentar com elas pra dialogar sobre caminhos possíveis se impõe. o PLANO NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS e o PLANO DE PRODUÇÃO E CONSUMO SUSTENTÁVEIS, iniciativas pioneiras do brasil, são leis que são excelentes exemplos de um tom mais produtivo e vigilante com as empresas, e respeitoso com os consumidores, sem tratá-los como vítimas coitadinhas e otários. consumidor: essa categoria vacilante que muita gente esquece, por hipocrisia, que inclui cada um de nós e TODOS os nossos gestos na sociedade de consumidores, e cuja mobilização, através do instituto de defesa do consumidor e muitas outras ações, muitas delas silenciosas, estão transformando há décadas o que até pouco tempo era um beco sem saída na conversa com as empresas. manter o debate no tom que esse vídeo aí propôe, classificando o mundo entre otários e não-otários, empresas-vilãs e consumidores-vítimas, não ajuda a avançar. 

4 comentários:

  1. Se pelo menos metade das pessoas que tem um razoável acesso à informação possuísse essa lucidez, seríamos um país de pessoas melhores. Eu também não aguento o complexo de vitima de argumentos como esses do vídeo. Muito bom mesmo! Parabéns!

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  2. rafael, super obrigada pelo comentário e participação. fico feliz que a gente concorde, mas mesmo que você tivesse uma opinião diferente (se isso um dia acontecer) seu comentário será sempre bem vindo. valeu mesmo.

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  3. Olá Sargitarius!

    Gostei dos pontos que vocë abordou, o melhor artigo sobre o assunto que vi ate agora.

    Mas sera que apostar no dialogo com as empresas nao e insuficiente, dado o atual contexto?

    Afinal, as grandes corporacoes estão ditando as regras do jogo há um bom tempo, e desde que o neoliberalismo tomou conta das principais nações do mundo, os governos tem cada vez menos poder de regulamentação sobre o capital privado e seus ditames. Aliás, os partidos políticos são nada mais do que reféns do capital corporativo, já que é a grana das transnacionais que elege candidatos.

    Esse discurso de que o consumo consciente e o diálogo com as empresas vão causar uma transformação global é justamente o que as grandes corporações querem de nós... que nos resignemos ao mero papel de consumidores e que expressemos nossas convicções apenas no ato de consumir.

    Acredito que o momento atual exige posições mais firmes de nós. Se queremos impor regras à economia, teremos que ser mais enfáticos, ao invés de ficar mendigando com o ombudsman das grandes empresas...

    Chegou o momento de agir. Consumir não vai mudar nada....

    Mudança de estilo de vida, mudança de hábitos, redes de troca, autoconsumo, produção artesanal, incentivo à tecnologias limpas, produção para subsistência, abandonar os mercados... menos do que isso não será suficiente...

    Abraços
    @gabrieldread

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  4. gabriel, obrigada pelo comentário e fico feliz mesmo por esse retorno tão legal. super concordo com você. mas mesmo para chegar nesse cenário ideal, digamos assim, de "Mudança de estilo de vida, mudança de hábitos, redes de troca, autoconsumo, produção artesanal, incentivo à tecnologias limpas, produção para subsistência, abandonar os mercados... menos do que isso não será suficiente...", haja gastar latim e saliva com as empresas.

    isso não significa dialogar nos termos e espaços que existem nas corporações, mas também criar outros, ainda que dialogando com elas.

    quando a gente fala a palavra diálogo parece algo suave, manso, doce, quase subserviente. mas se pode manter o diálogo mesmo falando firme.

    consumir é um gesto que é sinônimo da nossa vida da cidade hoje, num planeta cada vez mais urbano. ninguém produz o próprio alimento, as distâncias são enormes, uma rede de interdependência incalculável... chegar em um outro patamar da noite pro dia não tem como.

    mas há isso sim: tem muita gente que realmente acha que vai mudar o mundo ou salvar o mundo no caso da crise ecológica usando sacola retornável ou comprando só orgânicos de supermercado. certamente, a mudança de estilo de vida passa por aí. mas não se reduz a isso, como se alardea.

    o que me assusta mais é que, mesmo diante de tanta coisa pa pensar, muita, muita gente se torna cada vez mais voltada para acumular. seja nas jogatinas de banco, seja sustentando o mercado de luxo, direta ou indiretamente. acho que esse novo programa das ricaças na TV passa por essa valorização na contra-mão de tudo.

    a gente olha para o grande e se angustia. olha para o gesto pequeno e acha pouco. e é. talvez a saída, pela direita leão da montanha, seja fazer o pequeno, sem tirar o olho do desafio grande, que nos espera, e nos exige, por mais incômodo que isso seja.

    boa sorte pra nós. eu tenho muito que aprender, tudo isso é mega novo, e por aqui tenho tido muitas aulas. mais uma com o seu comentário. namastê.

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super carrinho. faça as idéias rodarem aqui também.
obrigada pela participação no debate.