4 de março de 2011

o samba já chorava pela natureza. artigo de teroca.

Leia post original aqui
Tribuna Impressa e Portal Araraquara
Quinta, 20 de Janeiro de 2011


Teroca é professor, engenheiro, radialista, sambista e compositor.
www.teroca.com.br





Muitos compositores, de muitas vertentes da MPB, cantaram, cantam e continuarão a cantar a nossa mãe natureza. Eu, como a grande maioria da população brasileira, estupefata perante as tristes cenas proporcionadas por mais um verão, confesso que de imediato veio à minha mente duas canções.

Na verdade dois sambas, oriundos da riquíssima lavra dos parceiros João Nogueira e Paulo César Pinheiro, nascidos ao final da década de 1970 e, portanto, visionários, uma trezena de anos depois.

O primeiro samba, que ecoa e ressoa sem cessar, é "Chorando pela Natureza", em cujos versos iniciais já se define: "A natureza está clamando/De tanto lutar, não resistiu/E a poesia está chorando/Sobre o corpo do Brasil...".

A cada verão que vivenciamos, essa canção me chega assombrando os sonhos, as alvoradas, porque o panorama é sempre o mesmo, com três pontos que se repetem.

O primeiro é o descaso das autoridades no que tange a proporcionar aos seus cidadãos o uso e ocupação do solo mais racionalmente.

O segundo é a desgraça dos menos providos financeiramente, que acabam se alojando nas encostas e antigas várzeas de rios, pontos nevrálgicos de um já muito desequilibrado ecossistema. O terceiro são as chuvas acima da média devido ao aquecimento global. E os senhores do poder insistem em empurrar com a barriga metas reais e contundentes para se tentar aliviar a fúria da mãe natureza, cansada de tanta exploração que visa única e exclusivamente o acúmulo e concentração de riqueza monetária, alardeada pelos quatro cantos do planeta como visão desenvolvimentista, que gera emprego e renda, independente de mais nada.

O segundo samba se intitula "As Forças da Natureza", que, em sua primeira estrofe já dá o tom: "Quando o Sol se derramar em toda a sua essência/desafiando o poder da ciência/pra combater o mal/ e o mar com suas águas bravias/levar consigo o pó dos nossos dias/vai ser um bom sinal...".

Como engenheiro, fico aqui pensando em que modelo hidrológico deveremos nos basear daqui para frente, a julgar as cenas sequenciais de Santa Catarina, de Alagoas/Pernambuco e agora da Serra Fluminense.

O que a engenharia poderá fazer, a não ser criar/efetivar um sistema de alarme para evitar mais desgraça? Porque a desgraça virá, já que a Natureza está chorando, literalmente, com suas chuvas torrenciais, que não nos deixam dúvida alguma: estão chorando sobre o corpo do planeta.

SUPER DEBATE - Nota do blog.
Os sambas aos quais o autor do artigo se refere são dos anos 70, quando a problemática ambiental, o chamado moderno movimento ambientalista, começava a emergir [ Festival Woodstock, Silent Spring, livro que é considerado sinônimo/causa do surgimento do movimento ambientalista]. Os sambistas foram visionários, sim, ao falarem da 'natureza' do modo como falam, mas o horizonte tem sempre a medida da história, ainda que seja para reinventá-la. Como o autor mostra nesse artigo, a arte - o samba - é sempre uma antena especial.







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