Flashmob é uma palavra inventada lá por 2003. Flashmob vem de flash mobilization ou mobilização rápida. É quando um monte de gente se reúne para chamar a atenção realizando um gesto em grupo, criativo, surpreendente que, por sua vez, chama a atenção para uma questão importante. E no minuto seguinte, zas, todo mundo some, já não tem mobilização nenhuma. Veja aqui um exemplo de flashmob.
A Hora do Planeta existe desde 2007. A Hora do Planeta (Earth Hour) começou em Sydney, na Austrália, no mesmo ano em que o IPCC começou a aparecer mais na mídia por causa do debate em torno da mudança climática. De acordo com o Quarto Relatório periódico do IPCC, Intergovernmental Panel on Climate Change, gases de efeito estufa estão se acumulando na atmosfera, o planeta está ficando mais quente e isso se deve à ação humana e não a uma causa "natural" - uma idéia que ferve os ânimos dos céticos do clima. Naquele ano, pouco mais 2 milhões de pessoas desligaram as luzes para chamar a atenção para a mudança climática. Desde então, mais e mais países participam dessa iniciativa da WWF, que lidera a ação - obviamente, o trabalho dessa conhecida ONG vai muito além da Hora do Planeta.
Pensar na Hora do Planeta como um flashmob parece reduzir o seu elevadíssimo propósito de inspirar as pessoas a deixar o mundo mais green e tocar seus corações e mentes sobre o único jeito de obter algum resultado de impacto diante dos problemas ambientais, que também são problemas sociais: agir coletivamente. No entanto, a noção de flashmob também pode ajudar a dimensionar a sua importância, pois há diversos aspectos polêmicos. Muitos terráqueos não vão apagar a luz neste sábado. Outros classificam a Hora do Planeta como "ativismo de sofá", que só "apaga" a culpa.
Ela tem caráter de espetáculo, quando o desafio maior é tornar a ação diante de questões ambientais algo que faça parte do cotidiano do menos ativista dos mortais. O evento global cria ótimas oportunidades para o greenwash, isto é, o marketing verde desprovido de efetiva responsabilidade ambiental por parte das empresas e governos que apoiam a ação. O incremento nas adesões, portanto, poderia não corresponder, necessariamente, a uma maior "consciência ambiental" e sim à mera consolidação do tema "meio ambiente" no "clima" dos negócios e da política:
ser ecologicamente correto pega bem junto ao consumidor e ao eleitor.
Sua ênfase é no gesto pontual e individual - caracterítsica do flashmob - quando a questão climática é questão de Estado e demanda atos permanentes, para resultados efetivos, sustentáveis, sustentados, em diversos níveis, com diversos atores. De que adianta apagar a luz por uma hora e cometer "crimes" ambientais mal a primeira lâmpada volte a funcionar?
O mundo é um só para todos, diz a Hora do Planeta, no entanto, as parcelas de responsabilidade quanto à crise ambiental não são as mesmas para os diferentes países do mundo, nem as suas conseqüências, assim como o acesso ao que se produz no planeta não é o mesmo entre os seus diferentes moradores.
O Brasil, o país da sociedade de consumidores e da economia emergentes, que o diga, pois há pouco tempo nem Luz para Todos existia.
Ao contrário do que diz a divulgação da Hora do Planeta, é preciso bem mais do que acender ou apagar a luz por 1 hora para demonstrar "amor pela Terra". Aliás, essa idéia de que a Terra é passível de ser amada, e que tem lá seus humores, é uma abordagem que despolitiza o debate muitas vezes (uma questão da qual se ocupa a Ecocrítica). Porém, a despeito da quantidade de watts que venha a ser economizada naquela 1 hora, a "energia" da data é mesmo simbólica. É mais ou menos como o 1 de dezembro. As ações que acontecem no dia mundial de luta contra a aids pouco tem a ver com reduzir o número de infecções pelo HIV naquele dia específico.
A Hora do Planeta só existe por que o homem é um animal que parou os relógios. O próprio homem só existe pelo mesmo motivo. Se não fosse um animal simbólico, o homem não viveria em sociedade, não produziria cultura, não se (re)inventaria como "espécie humana". Se não fosse o símbolo, não teríamos (sobre)vivido até aqui. Será que a Hora do Planeta, pelo esforço que envolve, pelas tensões que não resolve, vale a pena pelo seu simbolismo? Além da catarse, o que fica? Deve ficar alguma coisa da noite da Hora do Planeta para a manhã seguinte, quando o Sol voltar a brilhar, mas o que? Como mensurar isso?
Em meio às tantas polêmicas que constituem o debate sobre a mudança climática, a Hora do Planeta é só mais uma. Apesar disso, tudo indica que a Hora deve continuar acontecendo. Quanto mais as suas contradições ficarem sob holofotes, mais se compreende as possibilidades e os limites do seu ato simbólico. A Hora do Planeta não vai "salvar a Terra" (aliás, vale refletir sobre a própria noção de "salvação").
Entre prós e contras da Hora do Planeta, decidi participar. Como se eu estivesse em um flashmob. OK, vou apagar a luz. Mas as incoerências do sério debate para o qual a Hora chama a atenção devem fiquem às claras. Uma lição que o mito da caverna de Platão já ensinou: sob a luz, se vê melhor. Para debater sobre a Hora do Planeta, como diz aquela música da Beyoncé, turn the lights on.
A Hora do Planeta existe desde 2007. A Hora do Planeta (Earth Hour) começou em Sydney, na Austrália, no mesmo ano em que o IPCC começou a aparecer mais na mídia por causa do debate em torno da mudança climática. De acordo com o Quarto Relatório periódico do IPCC, Intergovernmental Panel on Climate Change, gases de efeito estufa estão se acumulando na atmosfera, o planeta está ficando mais quente e isso se deve à ação humana e não a uma causa "natural" - uma idéia que ferve os ânimos dos céticos do clima. Naquele ano, pouco mais 2 milhões de pessoas desligaram as luzes para chamar a atenção para a mudança climática. Desde então, mais e mais países participam dessa iniciativa da WWF, que lidera a ação - obviamente, o trabalho dessa conhecida ONG vai muito além da Hora do Planeta.
Pensar na Hora do Planeta como um flashmob parece reduzir o seu elevadíssimo propósito de inspirar as pessoas a deixar o mundo mais green e tocar seus corações e mentes sobre o único jeito de obter algum resultado de impacto diante dos problemas ambientais, que também são problemas sociais: agir coletivamente. No entanto, a noção de flashmob também pode ajudar a dimensionar a sua importância, pois há diversos aspectos polêmicos. Muitos terráqueos não vão apagar a luz neste sábado. Outros classificam a Hora do Planeta como "ativismo de sofá", que só "apaga" a culpa.
Ela tem caráter de espetáculo, quando o desafio maior é tornar a ação diante de questões ambientais algo que faça parte do cotidiano do menos ativista dos mortais. O evento global cria ótimas oportunidades para o greenwash, isto é, o marketing verde desprovido de efetiva responsabilidade ambiental por parte das empresas e governos que apoiam a ação. O incremento nas adesões, portanto, poderia não corresponder, necessariamente, a uma maior "consciência ambiental" e sim à mera consolidação do tema "meio ambiente" no "clima" dos negócios e da política:
ser ecologicamente correto pega bem junto ao consumidor e ao eleitor.
Sua ênfase é no gesto pontual e individual - caracterítsica do flashmob - quando a questão climática é questão de Estado e demanda atos permanentes, para resultados efetivos, sustentáveis, sustentados, em diversos níveis, com diversos atores. De que adianta apagar a luz por uma hora e cometer "crimes" ambientais mal a primeira lâmpada volte a funcionar?
O mundo é um só para todos, diz a Hora do Planeta, no entanto, as parcelas de responsabilidade quanto à crise ambiental não são as mesmas para os diferentes países do mundo, nem as suas conseqüências, assim como o acesso ao que se produz no planeta não é o mesmo entre os seus diferentes moradores.
O Brasil, o país da sociedade de consumidores e da economia emergentes, que o diga, pois há pouco tempo nem Luz para Todos existia.
Ao contrário do que diz a divulgação da Hora do Planeta, é preciso bem mais do que acender ou apagar a luz por 1 hora para demonstrar "amor pela Terra". Aliás, essa idéia de que a Terra é passível de ser amada, e que tem lá seus humores, é uma abordagem que despolitiza o debate muitas vezes (uma questão da qual se ocupa a Ecocrítica). Porém, a despeito da quantidade de watts que venha a ser economizada naquela 1 hora, a "energia" da data é mesmo simbólica. É mais ou menos como o 1 de dezembro. As ações que acontecem no dia mundial de luta contra a aids pouco tem a ver com reduzir o número de infecções pelo HIV naquele dia específico.
A Hora do Planeta só existe por que o homem é um animal que parou os relógios. O próprio homem só existe pelo mesmo motivo. Se não fosse um animal simbólico, o homem não viveria em sociedade, não produziria cultura, não se (re)inventaria como "espécie humana". Se não fosse o símbolo, não teríamos (sobre)vivido até aqui. Será que a Hora do Planeta, pelo esforço que envolve, pelas tensões que não resolve, vale a pena pelo seu simbolismo? Além da catarse, o que fica? Deve ficar alguma coisa da noite da Hora do Planeta para a manhã seguinte, quando o Sol voltar a brilhar, mas o que? Como mensurar isso?
Em meio às tantas polêmicas que constituem o debate sobre a mudança climática, a Hora do Planeta é só mais uma. Apesar disso, tudo indica que a Hora deve continuar acontecendo. Quanto mais as suas contradições ficarem sob holofotes, mais se compreende as possibilidades e os limites do seu ato simbólico. A Hora do Planeta não vai "salvar a Terra" (aliás, vale refletir sobre a própria noção de "salvação").
Entre prós e contras da Hora do Planeta, decidi participar. Como se eu estivesse em um flashmob. OK, vou apagar a luz. Mas as incoerências do sério debate para o qual a Hora chama a atenção devem fiquem às claras. Uma lição que o mito da caverna de Platão já ensinou: sob a luz, se vê melhor. Para debater sobre a Hora do Planeta, como diz aquela música da Beyoncé, turn the lights on.
#supercarrinho @supercarrinho
Bacana a perspectiva, Josi.
ResponderExcluirAchei o texto instigante. Apesar de apoiar a iniciativa do WWF desde o início (aqui em Brasília), vejo com alegria que há em seu texto uma lucidez crítica que, ao mesmo tempo em que se permite participar de iniciativas declaradamente pontuais, voluntaristas e individualistas, também se permite questionar esses mesmos princípios, sem que isso implique mera exclusão ou denúncia.
Feliz!
Vou pro Flashmob da Hora do Planeta, enquanto as luzes estiver apagadas, como pede um flashmob: deflagar, reunir, mobilizar e dispersar. Sem mais. ;)
mateus! acabei de acender a luz! me estendi na hora do planeta hahahaahaha muitoooooo obrigada pelo comentário! eu é que adorei a sua gentileza de deixar um oi aqui! feliz tô eu! um beijo e valeu mesmo pelo debate - tô aprendendo sobre o assunto e (me) descobrindo (em) muita coisa
ResponderExcluirPS são 22h agora, apesar do reloginho do blog marcar 18h
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