19 de abril de 2012

rosana jatobá. a classe C: consumo consciente?

* clique aqui para ler os comentários sobre esse texto abaixo *

* valem mais a pena que ler o texto *
* só postei por causa dos comentários*


A Classe C: Consumo Consciente?
seg, 05/03/12



Saiu recém-formada em Administração de Empresas e voltou consultora de mídia. Agenda cheia, sem tempo para novos contratos, tornou-se uma referência na área. Foram 12 anos fora do país, bebendo na fonte dos americanos. Quando soube que a menina dos meus olhos era a sustentabilidade, não fez rodeios.

-Desista! Sustentabilidade não dá ibope!
-Como assim? Em todo o planeta não se fala de outra coisa! O mundo corporativo trabalha para desenvolver a gestão sócio-ambiental, criar negócios ditos sustentáveis e passar uma imagem de amigo do meio ambiente; as TVs americana e europeia exibem cada vez mais conteúdo verde; líderes e governos se mobilizam para buscar acordos que minimizem o impacto da crise climática ….Vamos sediar a Rio+20!
-Apesar de o tema estar na boca das pessoas, é grande a dificuldade de mobilizar a sociedade. A onda verde está pegando apenas em alguns países lá fora. Aqui no Brasil, o mercado está de olho no bolso da classe C, um contingente de 91 milhões de brasileiros que amargaram a pobreza por décadas, e agora tem poder de compra. Seus lares recebem de R$ 1.115 a R$ 4.807 por mês, representando a maior fatia da renda nacional. Segundo a Fundação Getulio Vargas, o segmento detém 46% dos rendimentos das pessoas físicas. Ninguém está interessado em usar seu rico dinheirinho fazer concessões em prol da natureza.
- Mas essa multidão pode aprender a consumir de forma consciente. Eis aí uma oportunidade!
- A ascenção desta classe foi apenas financeira, não cultural. Essa fatia de mercado ainda não adquiriu conhecimentos para entender um conteúdo tão sofisticado quanto o da sustentabilidade. Talvez as próximas gerações encarem isso como um valor. Agora, cada um quer trocar seu celular a cada seis meses, agigantar sua tela de plasma a cada Natal e lotar a geladeira de guloseimas, antes restritas aos dias de festa.
-Não seria o caso de mudar a forma de expor o tema, numa embalagem mais interessante? Eu, por exemplo, tento fazê-lo por meio de crônicas , o que sempre me aproxima do leitor. E tenho muitos exemplos de leitores, oriundos de diversas camadas sociais, que participam da discussao de forma inteligente.
-O negócio é mais embaixo, Rosana. O ambientalismo cria situações de conflito , desafia interesses poderosos. O aquecimento global, por exemplo, põe em xeque a indústria do petróleo. E o petróleo beneficia diretamente o consumidor. Aposto que a maioria dos seus leitores está interessada em saber sobre o que você pensa. Não são atraídos pelo assunto em si.
E continuou, dizendo que o desinteresse pela causa transita por todos os níveis sociais. Até mesmo os que detem alta escolaridade formal, gestores de empresas bem-sucedidas …revelam-se conformados ao modelo econômico vigente, alheios à força desta nova visão de mundo, calcada em bases científicas.

Por achar o assunto apaixonante e , o mais importante, fundamental, indispensável para um novo rumo da humanidade, lamento mesmo o descaso.
Ocorre que a crise ambiental só se resolve por meio de uma revolução tecnológica e pela mudança de comportamento. Tarefas que dependem de esforço coletivo da sociedade civil, governos e iniciativa privada. O desafio é se reinventar na defesa desta bandeira. De que forma engajar as pessoas, já que a tendência é a desqualificação do ativismo?
Um dia um colega de profissão, Humberto Pereira, diretor do Globo Rural, com quem trabalhei por três anos, me perguntou em tom de piada: Voce sabia que o Jatobá demora 100 anos pra dar?
Se as questões relacionadas à sustentabilidade forem tratadas no mesmo ritmo, talvez não sobre um pé de Hymenaea courbaril pra contar a história.

 Licença Creative Commons  #supercarrinho  @supercarrinho

Nenhum comentário:

Postar um comentário

super carrinho. faça as idéias rodarem aqui também.
obrigada pela participação no debate.