“O planeta funciona como um sistema biofísico que modera o clima (mundial, continental e regional) e forma o solo e sua fertilidade. Os ecossistemas oferecem uma variedade de serviços, inclusive o fornecimento de água limpa e confiável. A diversidade biológica é uma biblioteca viva essencial para a sustentabilidade. Cada espécie representa um conjunto de soluções único para uma série de problemas biológicos e pode ser de importância crítica ao avanço da medicina, da agricultura produtiva, da biologia que fornece a atual sustentação para a humanidade e, mais importante, pode fornecer soluções para o desafio ambiental”, escreve Thomas Lovejoy, professor de ciências e política pública na Universidade George Mason e diretor de biodiversidade do Centro H. John Heinz III de Ciência, Economia e Meio-Ambiente, em artigo publicado no jornal International Herald Tribune e reproduzido pelo Portal Uol, 06-04-2012.
Segundo o biólogo, “chegou a hora de entender que este planeta que nos deu a existência deve ser administrado como o sistema biofísico que é. É hora de botar as mãos no volante, não para salvar o planeta, mas para mantê-lo habitável”.
Eis o artigo.
Em um centro de conferências cavernoso em Londres, tão destituído de vida que parece um set do filme “Matrix”, 3.000 cientistas, autoridades e membros das organizações da sociedade civil reuniram-se na última semana de março para discutir o estado do planeta e o que fazer a respeito.
A conferência do Planeta Sob Pressão se propõe a alimentar diretamente a Conferência de Desenvolvimento Sustentável da ONU “Rio+20”, que será celebrada em junho. A conferência ocorre 20 anos após o Encontro da Terra no Rio, que reuniu o maior número de chefes de Estado e produziu, entre outras coisas, duas convenções internacionais, uma de mudança climática e outra de diversidade biológica.
Não se pode dizer que nada foi alcançado nesse ínterim ou que a compreensão científica ficou parada, mas está óbvio que novos estudos não são necessários para se concluir que a humanidade fracassou em agir com a escala e a urgência necessárias.
Nos EUA, em particular, mas não exclusivamente, atenção demais foi dada a uma questão inexistente, ou seja, se a mudança climática é real ou não. Enquanto isso, o aquecimento do meio ambiente progride inexoravelmente, o gelo do Ártico afinou e retrocedeu ao seu menor ponto no verão e foi associado a uma primavera excepcionalmente quente na Europa e na América do Norte. As flores nasceram cedo na América do Norte e na Europa. A maior parte das pessoas só repara em como o tempo está agradável, sem terem noção da marcha da mudança climática.
Desde a revolução industrial, as nações desenvolvidas contribuíram significativamente para a emissão dos gases de efeito estufa. Isso levou a uma diferenciação dos países no Protocolo de Kyoto, originalmente adotado em 1997, basicamente dando tempo para as nações em desenvolvimento melhorarem suas economias antes de serem obrigadas a tomar grandes medidas.
A resposta dos Estados Unidos na época foi abdicar de sua posição tradicional de liderança, com uma votação no Senado baseada na noção míope que não havia sentido fazer nada se a China e aÍndia mantivessem sua política de expansão das usinas de carvão. Enquanto isso, a China está fazendo um progresso mensurável em descarbonizar sua economia e se tornou a maior produtora de painéis solares no mundo.
Mas a questão diante da humanidade é, de fato, maior do que a combustão de combustível fóssil e muito maior do que a mudança climática. O Instituto Ambiental de Estocolmo resumiu muito bem a situação em uma análise que identificou um planeta extrapolando os limites planetários de três formas: mudança climática, uso de nitrogênio e perda de biodiversidade.
O uso frequente e excessivo de fertilizantes de nitrogênio, primariamente pela agricultura industrializada, poluiu rios e lagos e, por sua vez, as águas costeiras em torno do mundo. As zonas mortas resultantes nas águas costeiras e estuários não têm oxigênio e em grande parte estão sem vida. Elas dobraram de número a cada década por quatro décadas – um aumento por um fator de 16. A quantidade de nitrogênio biologicamente ativo no mundo é o dobro do nível natural.
A maior violação até agora de limites planetários está na diversidade biológica. Isso porque, por definição, todos os problemas ambientais afetam os sistemas vivos, e a diversidade biológica integra todos eles. Reduzir nosso capital biológico é pura loucura.
O planeta funciona como um sistema biofísico que modera o clima (mundial, continental e regional) e forma o solo e sua fertilidade. Os ecossistemas oferecem uma variedade de serviços, inclusive o fornecimento de água limpa e confiável. A diversidade biológica é uma biblioteca viva essencial para a sustentabilidade. Cada espécie representa um conjunto de soluções único para uma série de problemas biológicos e pode ser de importância crítica ao avanço da medicina, da agricultura produtiva, da biologia que fornece a atual sustentação para a humanidade e, mais importante, pode fornecer soluções para o desafio ambiental.
Olhando para o futuro, não temos apenas que lidar com esses problemas em escala planetária, mas também encontrar formas de alimentar e produzir uma qualidade de vida decente para pelo menos dois bilhões de pessoas além dos sete bilhões que já estão aqui. Precisamos fazer isso sem destruir mais ecossistemas e perder mais diversidade biológica.
A inventividade humana deve se abrir ao desafio. Mas tem que reconhecer o problema e lidar com ele imediatamente e em grande escala.
Um passo importante, a criação da organização do “Futuro da Terra”, foi anunciado na conferência. Ele reunirá todas as disciplinas científicas relevantes para trabalharem neste que é o maior desafio na história da nossa espécie. Isso é essencial porque muitos cientistas físicos parecem cegos à importância da biologia no funcionamento do planeta vivo e ela como pode prover soluções críticas. A economia e as ciências sociais também são críticas.
A história vai medir o impacto da conferência do Planeta Sob Pressão e se a Rio+20 vai enfrentar o desafio. Chegou a hora de entender que este planeta que nos deu a existência deve ser administrado como o sistema biofísico que é. É hora de botar as mãos no volante, não para salvar o planeta, mas para mantê-lo habitável.
ORIGINAL - ARTICLE
OP-ED CONTRIBUTOR
The Greatest Challenge of Our Species
By THOMAS LOVEJOY
Published: April 5, 2012
In a cavernous London conference center so devoid of life as to seem a film set for “The Matrix,” 3,000 scientists, officials and members of civil society organizations met in the last week of March to consider the state of the planet and what to do about it.
Daniel Mihailescu/Agence France-Presse — Getty Images
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Times Topic: Global Warming & Climate Change
The Planet Under Pressure conference is intended to feed directly into the “Rio+20” United Nations Conference on Sustainable Development this coming June, 20 years after the Earth Summit in Rio convened the largest number ever of heads of state and produced, among other things, two international conventions, one for climate change and the other for biological diversity.
While it is not as if nothing has been achieved in the interim or that scientific understanding has stood still, it is obvious that new science is not needed to conclude that humanity has failed to act at the scale and with the urgency needed.
In the United States, in particular (but not exclusively), far too much attention has been given to the non-issue of whether climate change is real or not. In the meantime the heating of the atmosphere proceeds inexorably, the Arctic ice has thinned and retreated at its summer low to a point that it might be tied to the exceptionally warm spring in Europe and North America. Spring bloom has erupted early in North America and Europe. Most people just say how nice the weather is with no sense of the march of climate change.
Since the industrial revolution, developed nations have contributed significantly to the atmospheric burden of greenhouse gases. That led to a two-tier arrangement in the Kyoto Protocol, originally adopted in 1997, basically giving time to developing countries to improve their economies before taking major action.
The response of the United States at the time was to abdicate its traditional leadership position with a Senate vote based on the myopic notion that there was no point in doing anything if China and India were to keep on building coal-fired power plants. In the meantime, China is making measurable progress in decarbonizing its economy and has become the largest producer of solar panels in the world.
But the issue before humanity is, in fact, bigger than fossil fuel combustion, and far bigger than climate change. The Stockholm Environment Institute summed it up nicely in an analysis that identified a planet departing from planetary boundaries in three ways: climate change, nitrogen use and loss of biodiversity.
The use and frequent overuse of nitrogen fertilizer primarily by industrialized agriculture has polluted streams and lakes, and, in turn, coastal waters around the world. The resulting dead zones in coastal waters and estuaries are devoid of oxygen and largely devoid of life. They have doubled in number every decade for four decades — an increase by a factor of 16. The amount of biologically active nitrogen in the world is twice the natural level.
The greatest violation by far of planetary boundaries is in biological diversity. This is because, by definition, all environmental problems affect living systems; biological diversity integrates them all. Running down our biological capital is pure folly.
The planet works as a biophysical system that moderates climate (global, continental and regional) and creates soil and its fertility. Ecosystems provide a variety of services, not the least of which is provision of clean and reliable water. Biological diversity is the essential living library for sustainability. Each species represents a unique set of solutions to a set of biological problems, any one of which can be of critical importance to the advance of medicine, to productive agriculture, to the biology that provides current support for humanity, and, most importantly, will provide solutions to the environmental challenge.
Looking ahead, we not only have to deal with these planetary scale problems but also find ways to feed and produce a decent quality of life for at least two more billion than the seven billion people already here. We need to do this without destroying more ecosystems and losing more biological diversity.
Human ingenuity should be up to the challenge. But it has to recognize the problem and address it with immediacy and at scale.
An important step, a “Future Earth” organization, was announced at the conference. It will bring all the relevant scientific disciplines together to work on this, the greatest challenge in the history of our species. This is essential because many physical scientists seem blind to the importance of biology in how the living planet works, and how it can provide critical solutions. Economics and social sciences are critical as well.
History will measure the impact of the Planet Under Pressure conference and the extent that Rio+20 rises to the challenge. The moment has come to realize that this planet which brought us into existence must be managed as the biophysical system that it is. It is time to get our hands on the steering wheel, not to save the planet but to keep it habitable.
Thomas Lovejoy is professor of science and public policy at George Mason University and biodiversity chairman at the H. John Heinz III Center for Science, Economics and the Environment.
#supercarrinho @supercarrinho
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super carrinho. faça as idéias rodarem aqui também.
obrigada pela participação no debate.