3 de abril de 2012

quanto mais (se falar sobre o) lixo, melhor.



wanna talk trash?


pensando alto. 30 bilhões de toneladas de resíduos sólidos a cada ano se acumulam pelo planeta e seu maior vomitador é também é o seu maior reciclador: o esquema capitalista. que tudo engole, digere, processa. o lixo é transformado, assim, em inofesivo e bem vindo "material reciclável".

a ampliação do acesso global ao consumo implica ampliação do "acesso" ao lixo. há vários símbolos recentes dessa dinâmica ambígüa no brasil. nos últimos dias, um destaque: a nova novela das 8 da rede globo. lá estão os grupos sociais (mais) populares - presenças evidentes nas últimas produções desta e de outras emissoras, que tentam dialogar com a tal "classe C" - e o "núcleo do lixão".

novos consumidores também são novos poluidores e, no tom sob o qual o tema vem sendo discutido por quem chegou antes (países mais ricos, grupos sociais mais ricos), os novos consumidores são os criminosos ambientais da vez, que, além de tudo, ainda estariam deixando o planeta mais apertado.

é bastante significativo que uma novela fale com tanta ênfase do lixo e do lixão. vamos acompanhar, pois, nunca antes na história desse país as coisas e as pessoas de um aterro sanitário ganharam holofotes no horário nobre do brasil, esse emergente insolente. em um dos capítulos que assisti, o lixão parecia cenário de conto de fadas. a magia das coisas, para além de nós. de um lado, essa abordagem cosmética esvazia a complexa, séria, urgente questão do volume do lixo gerado pelo consumo individual; de outro, também potencializa o que até então estava um tanto invisível: a "sociabilidade" do lixo. isso interessa "de dentro" à lógica capitalista: compreendê-la, inventá-la, lucrar com ela.

o capitalismo (e como não?) quer continuar bombando no mercado, a despeito das mazelas de toda ordem que são despejadas ao seu redor, todos os dias. o capitalismo é orgânico, mas também é muito seco: tá na pista pra negócio à vista, parcelas a perder de vista... daí a recente onipresença desse debate sobre o lixo na TV, na internet, na conversa cotidiana: novos valores culturais se configuram em torno do que até então era feio e fedido, e se descarta, assim, a própria idéia de descarte fatal. não acaba nunca.

na perspectiva ambientalista, quanto menos lixo, melhor; quanto mais reciclagem, melhor. mas quanto mais se falar sobre o lixo, o discurso da reciclagem engendra novas mercadorias: excessos e sobras  transformados em "originais" pelo capital. é da sua "natureza". o discurso da reciclagem fala da reciclagem do próprio capitalismo, frente ao desafio da sua continuidade histórica. afinal, não está fácil para ninguém. até o plástico desaparece um dia. demora, mas desaparece.





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