27 de março de 2012

essa tal felicidade.

por REDAÇÃO em 27/03/2012 Unesp Ciência


A Idade de Ouro – História da busca da felicidade
Georges Minois; tradução de Christiane Fonseca Gradvohl Colas
Editora Unesp; 472 págs. R$ 72
" Na resenha da edição deste mês, a história de uma perseguição utópica e cíclica, que tem início em um mito pagão da Grécia Antiga e chega ao século 21 controlada pela mídia a serviço do mercado"

IdadedeOuro,A
Por Luciana Christante
"Ao mencionar que um de seus colaboradores havia resenhado dois livros sobre felicidade, um editorial da revista The New Yorker de 15 de março de 2010 aproveita para destacar a recorrência do tema ao longo da história da publicação, e prepara o leitor: “A inescrutável natureza do assunto parece um campo fértil para escritores e editoras, e uma boa maneira de deixar infelizes os resenhistas – como atesta uma pesquisa em nossos arquivos”.
Aqui, quem corre o risco de ficar descontente ou decepcionado com a leitura de A idade de Ouro – História da busca da felicidade (Editora Unesp; tradução de Christiane Fonseca Gradvohl Colas) são os que buscam receitas para atingir uma vida feliz ou que podem se sentir ofendidos ou fracassados se forem chamados de infelizes. Para eles, no entanto, as livrarias oferecem uma farta oferta de títulos de autoajuda.
O novo livro do historiador francês Georges Minois, autor de História do riso e do escárnio(Editora Unesp, 2003), não tem a pretensão de desvendar a essência da felicidade, do ponto de vista filosófico, psicológico, neurocientífico ou de qualquer outro. Seu objetivo é documentar a perseguição obsessiva (e inútil) dela pelo ser humano desde a Antiguidade.
O ponto de partida do livro é o mito pagão da Idade de Ouro, formulado pela primeira vez pelo poeta grego Hesíodo no século 8 antes de nossa era, que se refere a um período – já inatingível naquela época – em que os gregos teriam vivido num estado de apogeu e glórias perpétuas.
Esse mito foi “reeditado” várias vezes ao longo dos tempos, demonstra Minois. Dele deriva, por exemplo, o paraíso terrestre dos cristãos, materializado na América descoberta pelos europeus no século 16. O Renascimento, aliás, é destacado no livro como um dos períodos em que a felicidade mítica teve seu retorno mais triunfal, justamente porque a possibilidade de ser feliz fora interditada durante quase mil anos pela Igreja medieval.
“O fim das pestes e das grandes fomes, o impulso econômico e monetário, a redescoberta dos tesouros da Antiguidade, tudo isso foi percebido pelas elites como uma transformação radical do contexto e da qualidade de vida, a saída de um longo período de trevas – enfim, como o retorno da Idade de Ouro”, escreve o historiador.
Tamanha euforia renascentista abriu caminho para um século 17 pessimista, “dominado pela ideia de cólera divina”, que por sua vez impulsionou o retorno do culto à felicidade, agora mais individual que coletiva, no século 18. Tal ideia ganha ainda mais espaço no  Século das Luzes (19), quando Montesquieu declara que “o homem é feito para a felicidade”.
A “epidemia hedonista” atual é analisada com dureza pelo autor.  “Após um século 20 durante o qual o Estado pensou poder garantir a vida feliz dos cidadãos, assistimos de fato a uma interiorização do indivíduo quanto a sua felicidade pessoal. Mas a novidade é que daqui em diante todas as aspirações individuais são recuperadas pela mídia a serviço do mercado de hiperconsumo, e se tornam assim, ao mesmo tempo, apostas de massa”, escreve. A finalidade do discurso midiático predominante hoje, segundo ele, “é formar um cidadão feliz o bastante para comprar e convencido que será ainda mais feliz graças a suas compras”. "

 Licença Creative Commons  #supercarrinho  @supercarrinho

Nenhum comentário:

Postar um comentário

super carrinho. faça as idéias rodarem aqui também.
obrigada pela participação no debate.